Libertar, Esperançar, Poetizar, Politizar, Compartilhar, Sonhar e Lutar. Essas são as palavras-geradoras que inspiram as celebrações do centenário do humanista, filósofo e educador Paulo Freire (1929-1997) na Universidade Federal Fluminense, durante o 11° Interculturalidades, com o tema “Primaverar, viver Freire”, de 21 a 30 de setembro de 2021.
Conferências, rodas de conversas, depoimentos, relatos de experiência, oficinas e apresentações artísticas visam homenagear o patrono da educação brasileira, com a presença de algumas pessoas que conviveram com Paulo Freire, mas sobretudo daqueles que vivem o legado do pensador brasileiro mais lido e estudado em todo o mundo.
Paulo Freire foi o brasileiro mais homenageado da história, tendo recebido pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da Europa e América, assim como importantes prêmios ao longo de sua trajetória, como o da UNESCO de Educação para a Paz, em 1986. Em 13 de abril de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.612 que declarava o educador Patrono da Educação Brasileira.
O pedagogo propunha uma prática de sala de aula que desenvolvesse a criticidade dos alunos e fosse capaz de libertá-los de sua condição de oprimidos, condenando o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas, que ele qualificou de “educação bancária”. Em “Pedagogia do Oprimido”, de 1968, o mais célebre de seus 30 livros, representando um marco na pedagogia brasileira e também mundial, o educador desenvolve esse conceito. De acordo com a ideia sustentada por ele, o saber é visto como uma doação por parte dos que se julgam seus detentores e os alunos como meros depósitos de conhecimento. Para o educador, enquanto a escola conservadora procura acomodar os indivíduos ao mundo existente, a educação que defende, ao contrário, busca inquietá-los.
11° Interculturalidades: Primaverar, viver Freire
O evento é construído e realizado graças a parcerias entre a Pró-Reitoria de Graduação, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, a Faculdade de Educação UFF, o Instituto de Educação de Angra dos Reis UFF e o Centro de Artes UFF, anfitrião do evento em suas redes sociais. No dia 19 de setembro, Freire completaria 100 anos, e a esta data se soma outra muito marcante para a instituição – 25 anos atrás, em 27 de agosto de 1996, a UFF concedeu a Paulo Freire o título de doutor honoris causa.
Para o reitor da UFF, Antonio Claudio da Nóbrega, celebrar o centenário de Paulo Freire e os 25 anos dessa condecoração é motivo de grande orgulho para a instituição. “O legado de Paulo Freire é de valor inestimável para o Brasil e para o mundo. Como pensador e patrono da Educação Brasileira, influenciou diferentes campos em que suas ações educativas revolucionaram áreas de saber e de vidas, confluindo para transformações pautadas na justiça social. A UFF é a instituição pública de ensino superior com o maior número de alunos ingressantes em todo o país, o que demonstra o engajamento e o desejo de cumprimento do nosso papel social”.
Em relação às expectativas para a décima primeira edição do Interculturalidades que realiza, o superintendente do Centro de Artes UFF, Leonardo Guelman, afirma que o “Primaverar, viver Freire” é mais do que um evento. “Num momento marcante de abatimento do país, construímos um experimento de ativação do mundo pela palavra, um espaço-experiência que nos motiva a ocupar nossos espaços de fala e ação na garantia de direitos fundamentais, na saúde, na educação e na cultura; o direito à rua, à cidade e ao amplo exercício da vida e da concidadania. A proposta é de um amplo diálogo crítico, que entrelace vozes num campo de experiências e testemunhos partilhados, em que falem corpos, sujeitos, vontades, narrativas de memórias de toda opressão e resistência, e princípios de amorosidade em respeito à diferença, como liga social, que supere a divisão e o ódio imobilizadores”.
Destaques da programação:
No dia 21, terça-feira, às 18h, a conferência que abre o 11º Interculturalidades é com o teólogo Leonardo Boff, com o tema “Paulo Freire: inspirador do amor e da libertação”. Mais cedo, haverá a abertura institucional, com a participação da viúva do homenageado, Nita Freire, e de autoridades da UFF realizadoras do evento, além do lançamento da exposição “Angicos”. A exposição virtual faz alusão a uma experiência pedagógica ocorrida na cidade interiorana de mesmo nome, localizada no Rio Grande do Norte, onde, em 1963, educadores formados por Paulo Freire alfabetizaram moradores da região. Aquela experiência contribuiu muito para o fortalecimento do “Método Paulo Freire”, sob o qual o contato dos alunos com referências próximas ao seu convívio facilita o aprendizado.
Compondo ainda a série de conferências do 11° Interculturalidades, estão: “Paulo Freire e o esperançar nos dias de hoje”, de Sérgio Haddad, biógrafo de Freire (dia 22); “Sonhar a terra”, com Daniel Munduruku, educador e ativista indígena (dia 23); “Educação como prática política: o legado de Paulo Freire”, com Luiza Erundina, assistente social, ex-prefeita de São Paulo e deputada federal (dia 24); “Compartilhar a vida, respeitar a diferença e transformar mundos”, com Carlos Rodrigues Brandão, autor, pesquisador e professor da Unicamp (dia 27); “Palavra que lavra, que semeia ideias no coração de todos”, com Tatiana Henrique, atriz e pesquisadora do teatro (dia 28); e “Lutar – Caminho Que Não se Percorre Só”, com Preta Ferreira, cantora, produtora, apresentadora e ativista (dia 29).
Dentre os destaques da área artística, haverá a apresentação dos grupos da casa, Música Antiga da UFF e Quarteto de Cordas da UFF (dia 25, 16h), o tributo “Zé Keti – a voz do morro”, com apresentação da Orquestra Sinfônica Nacional UFF e a participação da Orquestra de Cordas da Grota, seguida de conversa com Luiz Lima, Robson Leitão e Leonardo Guelman (dia 25, 18h), as peças teatrais “Paulo Freire – o andarilho da utopia”, com o ator Richard Riguetti (dias 22 e 26, 20h), e “Paulo Freire e o mundo lá fora”, do Coletivo En La Barca Jornadas Teatrais (dia 25, 20h), além de performances cênicas, oficinas culturais, mesas com artistas e o “Ciclo Apalavrar” (dias 23 e 29, 20h), uma mostra de filmes e debates que buscam refletir sobre a interferência da Educação na vida cotidiana, proporcionando libertação, esperança e autonomia.
Também estarão representados educadores e lideranças que compartilham seu “ensinar-aprender” – conceito fundamental para quem segue o legado de Paulo Freire. Sob o tema “Legado de libertação em Paulo Freire: emancipação e transformação social a partir das lutas populares socioambientais”, participam Maria Raimunda (MST-MA), Charles Torcate (filósofo e coordenador do Nacional do Movimento pela soberania popular na Mineração/PA) e Diego Chabalgoity (autor do livro “Ontologia do oprimido – construção do pensamento filosófico em Paulo Freire”).
Na mesa, “A experiência de Angicos”, haverá a presença de Marcos Guerra, participante das ações de alfabetização em Angicos, além das professoras Nilcéa Lemos Pelandré, e Jaqueline Ventura (mediadora). Já a mesa “O legado freireano e os movimentos sociais” contará com a participação de Rubneuza de Souza (Educação do MST), Givânia Maria da Silva (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e Rodrigo Lopes (Associação dos Motofrentistas por Aplicativos – PE).
As lideranças indígenas Algemiro Karai Mirim (professor de guarani) e Karai Papa (professor e cineasta) estarão na mesa “Kyringue Mbya Reko – O modo Guarani Mbya de ser criança”, e Rosani Kaintang (da Federação dos povos indígenas do Pará) divide com Júlio Cesar de Souza Tavares (UFF) e José Jorge de Carvalho (UnB) a mesa “Políticas afirmativas: resistência e emancipação”. Fatinha do Jongo de Pinheiral (Maria de Fátima da Silveira Santos), Mãe Marcia du Sàkpáta (Marcia Regina Vital da Silva) e Lygia de Oliveira Fernandes são as convidadas da mesa “Encontros e saberes compartilhados”.
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