Com a expectativa de receber aproximadamente 700 pessoas, entre integrantes da comunidade acadêmica, autoridades locais e federais, a solenidade de recondução dos professores Antonio Claudio Lucas da Nóbrega e Fabio Barboza Passos aos cargos de reitor e vice-reitor da Universidade Federal Fluminense será realizada na próxima terça-feira, a partir das 17h, no dia 17 de janeiro de 2023, no Teatro da UFF.
Antonio Claudio e Fabio iniciam o segundo mandato após quatro anos de muitos desafios. Entre as restrições orçamentárias do Governo Federal e a implantação de um novo modelo de ensino durante a pandemia da Covid-19, alguns avanços se consolidaram nesse período, com destaque para as iniciativas de contenção da evasão escolar, os investimentos em infraestrutura, com a conclusão de obras e inaugurações, o fortalecimento das políticas de assistência estudantil e inclusão, o aprimoramento das condutas de ética, controle e integridade institucional, entre outros.
A poucos dias de um dos eventos mais simbólicos e importantes da universidade, os dirigentes da UFF concederam uma entrevista em que detalham as expectativas em relação ao segundo mandato, as perspectivas em relação aos investimentos em educação no país e os planos da gestão até 2026.
Qual o balanço geral do primeiro mandato (2018-2022) e quais experiências bem-sucedidas serão aprimoradas para os próximos anos?
Nesses últimos anos, enfrentamos uma das maiores crises orçamentárias da história das universidades federais do país e a maior crise sanitária dos últimos cem anos, a pandemia de Covid-19. Ainda assim, investimos mais de 100 milhões de reais em obras, manutenção, programas de inclusão e qualidade acadêmica. Tudo com muita democracia e total transparência.
Para os próximos anos, nosso objetivo é concluir o plano de desenvolvimento de infraestrutura, que não foi possível completar nos últimos quatro anos. Isto inclui finalizar as obras paradas e oferecer infraestrutura adequada para todas as unidades, incluindo os restaurantes universitários, assistência estudantil e infraestrutura acadêmica como um todo.
Além disso, nos esforçamos para fortalecer a pedagogia de aprendizagem ativa, buscando exercer o protagonismo neste campo, pois acreditamos ser fundamental para os alunos desenvolverem habilidade de aprender, ocupando uma centralidade no processo educacional.
Outro foco importante para a gestão é aprofundar a transformação digital. Isso significa diversas coisas; fundamentalmente, trata-se de uma abordagem mais atual para atrair e manter o interesse dos estudantes universitários e tornar a universidade mais aberta, dinâmica e contemporânea.
Em 2020, a UFF apresentou a maior taxa de concluintes em relação às demais Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Como manter esse índice e combater a evasão escolar?
Sim, temos um programa chamado “Evasão Zero”, que é construído pela Pró-reitoria de Graduação (Prograd) em cooperação com a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes). Além disso, estamos desenvolvendo outro programa na Proaes que visa qualificar a política de permanência dos estudantes. Esse programa tem como objetivo simplificar o processo administrativo de entrada dos estudantes no sistema de bolsas de auxílio, tornando o processo mais eficiente. O programa está em construção e será implementado nos próximos dois anos. Como parte dele, os estudantes terão acesso a canais de entrada para atividades acadêmicas, como bolsas de extensão, iniciação científica e monitoria, o que os ajudará a se qualificarem e permanecerem na instituição. Trata-se de uma forma de incentivar o sucesso estudantil, para que concluam seus estudos no prazo adequado e com qualidade.
Além disso, estamos também trabalhando politicamente, em nível nacional, para aprofundar e ampliar as políticas de assistência estudantil. Isso inclui uma ação interna e também externa. Temos outras cooperações com o Governo do Estado, como a busca pelo passe livre, que também é uma luta nossa, e outras ações nesse sentido para garantir menos evasão e aumentar a taxa de sucesso na formação estudantil.
A assistência estudantil, um dos grandes pilares da universidade, possui uma demanda crescente. Existe alguma perspectiva a curto prazo para expandir essas políticas?
Nós estamos fazendo uma revisão completa de todas as bolsas e auxílios e, inclusive, estudando a possibilidade de fazer com que todas as bolsas sejam pagas por doze meses. No passado, algumas foram reduzidas para dez meses em função da “lógica da bolsa”, mas estamos criando a justificativa administrativa para poder tornar esse pagamento contínuo. Algumas chamadas, como a relacionada à Covid-19, que tinham auxílio específico, vão ser rearranjadas justamente para atender um número maior de estudantes. Além disso, com a política externa e interna de rearranjo de gestão, talvez seja possível ampliar o número de alunos a médio prazo.
Nos últimos anos, as universidades têm sofrido com ataques que colocam em xeque o compromisso social de formação dos cidadãos. Qual é a visão sobre essa problemática e quais as estratégias para a UFF dialogar com a sociedade e se aproximar da realidade de milhares de brasileiros?
Primeiramente, acho que a UFF tem feito, historicamente, um bom trabalho de diálogo com a sociedade, mas concordo que pode e deve ser aprofundado. Nós realizamos ações como “UFF nas Ruas”, “UFF nas Praças” e participamos da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Também participamos do Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA), que é financiado pela Prefeitura e organizado para objetivos estratégicos. Também vale mencionar a realização de uma feira e de um seminário de divulgação externa dessas ações. Além disso, temos em gestação o nosso plano de comunicação institucional através da Superintendência de Comunicação Social (SCS), que vai intensificar a nossa relação com os meios de comunicação, estruturando os chamados “observatórios”: grupos de pesquisa que irão produzir documentos para a sociedade acerca de temas de interesse geral. Nós o consideramos um instrumento de diálogo importante.
No primeiro mandato, os temas de acessibilidade e inclusão estiveram em alta. Como avaliam as iniciativas já colocadas em prática e quais os desafios ainda persistem para tornar a UFF uma universidade mais agregadora e inclusiva?
Muito ainda precisa ser feito, não somente adequação estrutural e arquitetônica dos prédios antigos, mas também a ampliação da acessibilidade pedagógica e atitudinal. Tudo isso é um desafio grande e está sendo feito continuamente. No Valonguinho, por exemplo, devido a décadas sem acessibilidade, está sendo construída uma rampa na entrada do prédio da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis. O auditório de Geociências, onde acontecem as reuniões do conselho universitário, também está sendo reformado, com a construção de plataformas de acesso ao local. Além disso, também temos aprofundadas as políticas de acessibilidade pedagógica, a exemplo da compra de materiais específicos para pessoas com deficiência visual e o treinamento na formação dos professores. A Proaes vai ampliar sua missão e passar também a tratar das políticas afirmativas institucionais, ganhando um espaço para poder articular as múltiplas ações em andamento do “UFF Acessível” e do “Sensibiliza”, duas estruturas que interagem para ampliar a interlocução com as pessoas com deficiência. Estamos elaborando atualmente uma política de Libras da universidade porque, apesar de a Proaes atender alunos com vulnerabilidade, também existe a necessidade de atender a pós-graduação. Visando mudar esse quadro, a professora de Letras, especialista em Libras, tem construído essa política.
A gestão pretende estabelecer novas parcerias público-privadas até 2026? Qual o ganho para a universidade?
Certamente, as parcerias foram fundamentais para que realizássemos tanto com tão pouco. A Prefeitura de Niterói é um ótimo exemplo disso, pois tem sido nosso principal parceiro. Por exemplo, recentemente tivemos a assinatura e homologação da licitação da infraestrutura da pista de atletismo e seu entorno e o lançamento da licitação da restauração do Cinema Icaraí, onde funcionará a sede da nossa Orquestra Sinfônica Nacional. Possuímos o PDPA, um projeto importante de cooperação financiado pela Prefeitura de Niterói para atender seus objetivos estratégicos.
Há também outros parceiros, como por exemplo a Prefeitura de Macaé, que construiu um prédio já entregue no segundo ano da gestão. Também pode ser citada a bancada parlamentar do Rio de Janeiro, que está financiando a conclusão do prédio da Faculdade Medicina e da UFF Campos dos Goytacazes, construindo o bandejão de Volta Redonda e agora o prédio de Rio das Ostras. Além disso, vale a menção à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que financiou a nossa fazenda de energia fotovoltaica em Iguaba, e à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, com quem estamos cooperando para terminar o prédio de química. Pretendemos ampliar parcerias públicas e privadas na busca de soluções para entregar infraestrutura e atividades nas quais a universidade possa exercer sua missão na sociedade, formar profissionais, cidadãos, gerar produtos e inovar, para gerar emprego e renda.
Estão previstas mudanças internas e administrativas para o próximo mandato? Se sim, por qual razão e qual o impacto delas na comunidade acadêmica e na sociedade?
A UFF passará por importantes transformações que impactam diretamente a comunidade e a sociedade. A Proaes, por exemplo, terá a missão de planejar e institucionalizar as iniciativas referentes às políticas de ação afirmativa, como equidade étnica, racial e de gênero. Já na Pró-reitoria de Extensão (Proex), a proposta é expandir o campo de atuação junto à sociedade, como por exemplo, funcionar nos moldes da Secretaria Executiva do Plano de Logística Sustentável. O mesmo acontece na área de planejamento, mais especificamente na Pró-reitoria de Planejamento (Proplan), que irá ganhar uma coordenação de assessoria e projetos institucionais, trazendo novidades estruturais para os novos desafios da sociedade.
Quais os projetos e planos para as unidades do interior nos próximos anos?
Continuar e aprofundar o que temos feito. Primeiramente, uma movimentação política para ampliação do nosso orçamento e busca por emendas, sempre com a articulação do gabinete e em diálogo com as comunidades. É assim que temos avançado! Mais especificamente, queremos replicar o modelo de consórcio entre unidades do sul do estado, que reuniu as três unidades da UFF de Volta Redonda e Angra e foi muito bem-sucedido em seu propósito. Nosso atual pró-reitor de planejamento é o professor Júlio César Abreu de Andrade, que foi diretor do ICHS de Volta Redonda e conhece muito bem o interior; logo, ele será um interlocutor muito privilegiado para atender tais demandas. Nosso objetivo é tentar fornecer a infraestrutura acadêmica e assistência estudantil para todos os campi no interior.
Que políticas podem contribuir para contornar os desafios junto ao poder público?
Fazemos uma leitura do interesse da população sempre de forma inclusiva. Trabalhamos em cooperação com o poder público e olhamos para o objetivo final, que é entregar uma estrutura, um projeto, uma ação para a sociedade. A UFF tem conquistado espaço porque tem demonstrado ser uma ótima parceira, não apenas para construir a política pública, mas também para executá-la, para “fazer acontecer” no cotidiano. A universidade tem tido esse papel e certamente irá aprofundá-lo ainda mais.
Qual é a expectativa em relação aos investimentos dos próximos quatro anos de política federal?
As expectativas são as melhores possíveis diante do atual cenário. Tanto o presidente Lula quanto o ministro Camilo Santana e outros agentes do Governo têm falado em educação como um elemento central, não só a educação básica, mas também a do ensino superior. Temos visto com muita frequência esse discurso e ele não nos surpreende, pois sabemos que no governo Lula anterior, ele fez um investimento maciço através do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) nas universidades e nos institutos federais. A expectativa é que isso de fato se concretize como uma prioridade, pois o orçamento atual é a metade em comparação ao de dez anos atrás. Então estamos prontos para colaborar com um processo de reconstrução, qualificação e expansão do ensino superior como um instrumento de autonomia e soberania nacional.