Para muitos estudantes, disciplinas como Física, Química e Matemática representam uma verdadeira fonte de angústia. Pensando em levar a ciência de forma divertida e acessível ao maior número possível de pessoas, foi fundada em 2000 a Casa da Descoberta da UFF. Localizada no prédio do Instituto de Física da UFF, o projeto conta com atividades interativas e palestras voltadas à comunidade científica, o local recebe desde crianças até idosos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), além de visitantes não agendados. Segundo a coordenadora do Clube de Astronomia da Casa da Descoberta e professora do Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior (Infes), Érica Cristina Nogueira, o público tem aumentado graças ao trabalho de divulgação nas redes sociais. No último ano, por exemplo, o espaço recebeu cerca de 12 mil visitantes.
O projeto da Casa da Descoberta teve início através da iniciativa de alguns professores, que realizavam atividades voltadas para a comunidade durante a organização do aniversário do IF, em 2000. O projeto piloto chamado “Palácio das Descobertas”, foi realizado no ano anterior, em sua sede provisória, localizada no Palácio Nilo Peçanha, no Ingá. O local recebeu mais de 7 mil visitas no período de 8 de junho a 11 de julho de 1999.
Hoje o espaço possui múltiplos projetos que buscam aproximar o público da ciência. Além da tradicional visita guiada pelo ambiente, os visitantes ainda podem fazer a Trilha Ecológica nos jardins do Instituto. Com essa atividade, o participante aprenderá a identificar várias espécies botânicas, além de conhecer fatos curiosos e histórias sobre elas. Já o Clube de Astronomia promove a observação astronômica com os telescópios, diversas oficinas – onde, por exemplo, é possível aprender o conteúdo científico por trás da construção dos equipamentos – e sessões do planetário inflável. Ainda há a Tenda de Física com equipamentos de energia, como o Girotec, um simulador de antigravidade, que permite ao visitante experimentar a sensação de gravidade 0, através de um giro de 360º.
Entre bolsistas e voluntários, cerca de 30 estudantes de diversas graduações trabalham como monitores numa equipe multidisciplinar, além de docentes dos Institutos de Física, Biologia, Química, da Escola de Arquitetura e Urbanismo e a professora Érica Cristina, que vêm do Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior (Infes). “No total, temos 8 professores que coordenam vários projetos de extensão e, no início do ano, publicamos editais para bolsistas e voluntários. Os alunos inscritos recebem, durante 15 dias, um treinamento teórico sobre os equipamentos utilizados, assim, alguém da biologia estará capacitado para explicar um experimento de física, por exemplo. Então, eles passam um tempo recebendo o público e depois fazem uma prova escrita. Assim nós percebemos quem realmente possui perfil para o trabalho de divulgação científica que realizamos”, explica a docente.
Exposições
Graduando em Engenharia Química, o monitor Rafael Rodrigues Ferreira relembra de algumas exposições que aconteceram na Tenda da Física. “Ano passado, tivemos duas exposições: uma sobre o Projeto Sá, que retrata a Baía de Guanabara; depois, a Exposição Labirinto das Estrelas, realizada no Clube de Astronomia, onde falamos um pouquinho sobre o Universo e os cosmos. O público foi incrível”, conta. A professora Érica explica que os recursos da Casa da Descoberta, como a Tenda e alguns de seus monitores, não ficam restritos somente ao espaço da Casa. Eles também são cedidos a exposições externas.
Projetos “invisíveis”
A casa também é palco de atividades invisíveis aos olhos do grande público como o projeto de manutenção do professor do Instituto de Física, Cary Cassiano Cavalcanti Filho, que tornou mais rápido o conserto de equipamentos, capacitando alguns monitores para essa tarefa. O estudante Rafael exemplifica “se o Gerador de Van de Graaff para de funcionar no meio da visita de um colégio, um monitor da manutenção consegue identificar o problema, e se for possível, resolver imediatamente. Antigamente, num caso desses, uma parte do colégio interagiria com o equipamento e a outra não.”
Além dos projetos de divulgação científica, também são oferecidas aulas de reforço de Física aos alunos do 2ª ano do ensino médio do Colégio Estadual Aurelino Leal. Dessa forma, os estudantes têm acesso aos mesmos equipamentos usados na graduação nos laboratórios do IF. Aqueles que se destacam durante essas atividades, passam a atuar como monitores na Casa da Descoberta no último ano do ensino médio, recebendo uma bolsa de Jovens Talentos da Faperj.
Divulgação Científica
Para Érica Cristina, é importante que os alunos tenham contato com a ciência desde muito jovens “Existe uma ideia de que a área é só pra quem é muito inteligente. Com o trabalho de divulgação científica, você aproxima o pesquisador da comunidade, quebra o estereótipo do rapaz com alto nível de inteligência, com os cabelos despenteados, jaleco e óculos fundo de garrafa e mostra que ‘se uma pessoa tão parecida comigo pode, então eu também posso ser cientista’”.
A professora conta que algumas crianças visitam a Casa com tanta frequência que já são reconhecidas pelo nome e têm data de aniversário marcada. “Quando elas vêm pra colônia de férias, querem passar a explicação dos equipamentos para os colegas, porque elas realmente gostam”. Além disso, muitos dos alunos que participam do projeto de reforço escolar prestam vestibular para a UFF, se tornam monitores da Casa da Descoberta e alguns até seguem o caminho da docência.
Os visitantes, que são atraídos pela divulgação do projeto, conseguem ter um bom aproveitamento dessa experiência. Érica destaca, por exemplo, que a projeção da parte elétrica da Tenda da Descoberta foi feita a partir de um projeto de mestrado de Wagner de Anchieta Marques, aluno bolsista dos Jovens Talentos. Posteriormente, o estudante ingressou na universidade, tornou-se monitor do espaço e atualmente colabora com o projeto de extensão “Expandindo a Casa da Descoberta: Nova área Física, Novos Experimentos”.
O monitor Rafael Ferreira ressalta que “como aluno, quando chegamos aqui, vemos no dia a dia o que aprendemos em sala de aula, e isso é um incentivo enorme para nossa graduação. Na Casa, você pega os conceitos que aprendeu, os edifica, e o conhecimento se torna tão sólido que fica simples, de forma que você pode conversar até com uma criança de 6 anos e a faz compreender o assunto. Pra mim, quando você consegue passar um conceito para qualquer tipo de público significa que você compreendeu de verdade”. O estudante também ressalta que a oratória melhora devido ao contato com o público em geral, em razão das escolhas de locais externos para os eventos de divulgação, geralmente realizados em espaços acessíveis a todos, como a estação das Barcas.
Inclusão
Em 2017, foi elaborada a iniciativa “Um museu para todos: adaptação do acervo da Casa da Descoberta para a inclusão da pessoa com necessidades especiais” sob a orientação da coordenadora Érica, com o apoio da Proex e do Pibic. “Em outubro, começamos a realizar visitas guiadas em Libras na Casa da Descoberta. O objetivo é que pessoas com locomoção reduzida, cegos, surdos e pessoas com qualquer tipo de limitação consigam ter acesso às atividades do local”, explicou a professora.
Para atingir essa meta, a equipe tem adaptado as atividades para que o visitante com alguma deficiência visual, por exemplo, possa ter as mesmas experiências que os demais. Além da promoção de visitas guiadas, o projeto conta com três mediadoras, sendo que duas são fluentes em Português/Libras, que coordenam as sessões do planetário para este público.
Segundo a coordenadora, apesar do projeto ser recente e estar em fase de aprimoramento, ele já possui excelentes resultados. O aumento das visitas inclusivas, a apresentação de trabalhos em congressos que une as áreas de inclusão e de museologia e, recentemente, a divulgação pela TV INES demonstram os êxitos dessa proposta. No mesmo ano de criação, ela também conquistou o prêmio de melhor trabalho apresentado no Congresso Internacional do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Coines). Além disso, a Casa foi batizada com um sinal próprio em Libras – a soma de dois sinais (casa + descoberta) – como forma de identidade, mostrando o reconhecimento da iniciativa perante a comunidade surda.
Funcionamento
Com o objetivo de ser um espaço de diálogo entre a comunidade acadêmica e a sociedade para promoção do interesse da cultura científica, a Casa da Descoberta funciona na Av. Milton Tavares de Souza, s/nº – Boa Viagem, Niterói – RJ, de janeiro a dezembro.
Os horários de funcionamento são de segunda a sexta das 09:00 às 12:00, e das 14:00 às 17:00, exceto às quartas (das 18:00 às 21:00) com o Clube de Astronomia. As atividades inclusivas acontecem às quartas-feiras, das 14:00 às 17:00, mediante agendamento prévio. Além disso, abre quinzenalmente, aos sábados, das 10:00 às 15:00. Suas atividades são suspensas somente durante o recesso de final de ano, seguindo o calendário administrativo da UFF. Para outras informações, ligue para (21) 2629-5809.