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Pix completa quatro anos e revoluciona o sistema financeiro brasileiro

As perspectivas do avanço do Pix e um futuro cada vez mais digital

Com apenas quatro anos de criação, o Pix consolidou-se como um dos mais relevantes sistemas financeiros do Brasil. Lançado pelo Banco Central (BC) em novembro de 2020, o sistema registrou, até o final de setembro deste ano, mais de 120 bilhões de transações e movimentou R$ 52,6 trilhões. O impacto do Pix vai além dos números, pois modificou a forma como os brasileiros se relacionam com o dinheiro, e acelerou a  digitalização da economia.

De acordo com o BC, o país contabiliza 805,6 milhões de chaves cadastradas no sistema, das quais 95% pertencem a pessoas físicas. A rapidez, a praticidade e a ausência de taxas para usuários comuns explicam o crescimento vertiginoso dessa ferramenta, que, hoje, já é indispensável no cotidiano de milhões de pessoas.

O cotidiano é o destaque do Pix 

Criado para ser simples e acessível, o Pix rapidamente se tornou um substituto de métodos como TED, DOC e até mesmo do dinheiro em espécie. Segundo um levantamento do Banco Central, o pix superou o dinheiro como forma de pagamento no país, de forma que muitos microempreendedores passaram a utilizar o meio como alternativa ao recebimento em dinheiro vivo, permitindo maior rastreabilidade e organização financeira. O professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal Fluminense (UFF), Adriano Vilela, explica.

“O principal desafio é a necessidade de estar bancarizado, ou seja, ter ao menos uma conta-corrente ou poupança para o recebimento de pagamentos. É comum que muitos deles usem contas de outras pessoas. Essa abertura de conta envolve burocracias e custos, especialmente em contas para pessoas jurídicas. A digitalização ajuda na formalização, pois o registro eletrônico das vendas pode ser usado como um demonstrativo do lucro médio ao longo de um período. Com isso, ficaria mais fácil ter acesso a produtos financeiros como crédito, seguros e outros.”

Embora os benefícios sejam inegáveis, o Pix também trouxe novos desafios. Com o aumento do número de transações, cresceram as tentativas de fraudes e golpes. Em resposta, o Banco Central adotou medidas como o Mecanismo Especial de Devolução, que ajuda a ressarcir vítimas de golpes, além de limites para transações noturnas.

Outro ponto crítico é a ampliação do acesso em regiões remotas. Há áreas do Brasil onde a conectividade e o acesso à tecnologia ainda são limitados, o que impede o pleno funcionamento da ferramenta. “A necessidade do aparelho celular e o acesso à internet ainda são entraves. A primeira é menos relevante por conta da grande disseminação desses aparelhos entre a população, mas a segunda ainda tem dificuldade de acesso em regiões remotas, pois tende a ser muito instável, o que dificulta o uso do pix. O Banco Central do Brasil está trabalhando em um sistema no qual as transações possam ser feitas off-line, mas o lançamento está atrasado. A outra solução, claro, é facilitar o uso da internet por meios complementares de conexão, principalmente via satélite”, explica Vilela.

Reprodução: Tecnoblog

O que será do futuro econômico digital?

Entre as iniciativas do BC mais aguardadas está o Pix Parcelado, que permitirá aos usuários realizarem pagamentos divididos em prestações diretamente pelo sistema, sem depender de cartões de crédito. A proposta visa ampliar o uso do Pix em compras de maior valor, tornando-o ainda mais atrativo para consumidores e comerciantes.

Outro avanço é o Pix Internacional, previsto para possibilitar transferências entre contas de diferentes países. Essa funcionalidade pode reduzir custos de remessas internacionais e taxas de transação, e deve beneficiar, especialmente, trabalhadores que enviam dinheiro ao exterior ou famílias que recebem valores de parentes fora do Brasil. “As transações internacionais possivelmente são as operações que menos tiveram redução de custos e tempo nas últimas décadas. Ainda é muito caro e demorado fazer transferências entre um país e outro” comenta. 

Vários bancos centrais do mundo estão desenvolvendo sistemas que permitem a integração mais eficiente dos sistemas de pagamentos domésticos. O projeto Nexus, do Banco de Compensações Internacionais – espécie de banco central dos bancos centrais, sediado em Basileia, na Suíça – por exemplo, tem como objetivo conectar os mais de 70 sistemas instantâneos de pagamentos – como o PIX – ao redor do mundo. “Por enquanto, fazem parte do projeto os bancos centrais da Filipinas, Índia, Indonésia, Singapura e Tailândia. Além de facilitar remessas, o PIX internacional permitiria fazer pagamentos em outros países. Esse seria um grande avanço para os usuários, pois promoveria uma redução de custo e tempo substancial, além da menor burocracia”, relata o especialista.

Além disso, o Banco Central tem explorado a integração do Pix com serviços financeiros mais amplos, como pagamentos automáticos de contas recorrentes, como água, luz e internet. A ideia é permitir que os consumidores programem os pagamentos diretamente pelo sistema e eliminem a necessidade de boletos ou outras formas de cobrança.

A flexibilidade do método permite integração com novas tecnologias, como carteiras digitais, aplicativos de delivery e e-commerces.  Com isso, startups e empresas de tecnologia aproveitam cada vez mais a simplicidade do sistema para criar soluções inovadoras, como QR Codes que facilitam pagamentos em eventos, estacionamentos e até transporte público. Ademais, a gratuidade para pessoas físicas e simplicidade de uso também chama atenção para a ferramenta.

Moeda digital no radar do BC

Além das inovações promovidas pelo Pix, o Banco Central prepara o lançamento do DREX, a moeda digital brasileira. Desenvolvido desde agosto de 2020, o Drex promete integrar tecnologias de blockchain para tornar as transações mais seguras, ágeis e transparentes. Diferentemente das criptomoedas descentralizadas, o Drex será emitido e regulamentado pelo Banco Central, como uma extensão digital do real. 

Essa nova ferramenta tem o potencial de complementar o Pix e ampliar as possibilidades de pagamento digital para fomentar a inclusão financeira virtualmente. “Uma das principais vantagens do Drex é garantir a segurança em transações que hoje envolvem cripto ativos, como o Bitcoin. A moeda digital será fundamental para viabilizar contratos inteligentes, automatizar pagamentos e simplificar negociações complexas, como a liquidação de ativos financeiros”, explica Vilela.

Reprodução: Blog da Cresol

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Adriano Vilela Sampaio possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005), mestrado em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009) e doutorado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (2014). É professor da Universidade Federal Fluminense desde janeiro de 2014. Leciona e pesquisa nas áreas de Economia Internacional, Macroeconomia e Economia Monetária e Financeira.

 

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