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Programa de Pós-Graduação em Geociências: 45 anos com foco nas questões ambientais

Fundado em 1972, o Programa de Pós-graduação em Geoquímica, ligado ao Programa de Geociências, completa 45 anos neste ano. Até aproximadamente o final da década de 70, o enfoque de suas pesquisas era na geoquímica clássica. A partir daí, deu-se início a um movimento voltado para o meio ambiente, com a formação de grupos multidisciplinares, aulas em tempo integral e professores estrangeiros incorporados ao seu quadro docente, cuja pesquisa de alinhava à questão ambiental.

Atualmente, o programa, que tem conceito seis na Capes, obteve sua autonomia administrativa após a criação do Departamento de Geoquímica, em 1978, juntamente com outros departamentos, como o de Química Orgânica, Inorgânica, Química Analítica e Fisicoquímica. “Fomos o primeiro grande programa de geoquímica ambiental do Brasil, com uma visão interdisciplinar e uma forte presença de pesquisadores internacionais, como, por exemplo, indianos, alemães, ingleses, holandeses e americanos”, afirmou o coordenador do Núcleo de Estudo em Biomassa e Gerenciamento de Água (NAB), Raimundo Damasceno.

Em uma breve análise dos estudos ambientais feitos pela Geoquímica na América do Sul, é possível observar que todas as áreas possuem um projeto. “Temos uma participação geográfica muito intensa. No estado do Rio de Janeiro, somos destaque em pesquisas na Baía de Guanabara, na Baía de Sepetiba e na Baía da Ilha Grande, além de termos de pesquisa na Amazônia e no Centro Oeste. Temos uma inserção muito grande e funcionamos como um núcleo disseminador na área ambiental, inclusive com cooperação com outros grupos, como o da Biologia Marinha, do Laboratório de Geologia Marinha (Lagemar) e com o NAB”, destaca o professor Renato Campello.

Abrão foi o articulador da vinda de importantes pesquisadores para compor a equipe do Lagemar e foi um notável incentivador da pesquisa da pós-graduação”, conclui Sidney Mello.

Para o docente, que também é ex-aluno, muitos egressos adquiriram posições de destaque não só no Brasil, como também no cenário internacional. “Temos alunos que estão no Canadá, na Suíça, na Austrália, nos Estados Unidos, espalhados por vários centros de pesquisa, universidades e laboratórios. O percentual de egressos que conseguem boas colocações é muito elevado, mais de 90%”, afirma.

A pós-graduação recebe estudantes de outros estados, como Pará, Rio Grande do Sul, Paraná, entre outros. Além disso, estrangeiros, como iranianos, colombianos, venezuelanos, peruanos, espanhóis, chilenos e norte-americanos compõem o quadro discente. “Isso mostra o nosso padrão internacional. Recebemos alunos de outros países, formamos esses profissionais que vão se destacar em diversas universidades e países, que às vezes nem são os de sua origem”, enfatiza Renato.

Segundo o professor e pesquisador decano John Maddock, o programa também capacita educadores dos níveis fundamental e médio. “Tivemos, há alguns anos, uma turma que era composta por professores de educação básica e que fizeram o mestrado aqui para enriquecerem sua formação profissional”, explica.

As linhas de pesquisa

O Programa de Geoquímica conta, hoje, com três grandes áreas de pesquisa: Contaminação, Degradação e Recuperação Ambiental; Biogeoquímica Ambiental; e Paleoambiente Paleoclima e Mudanças Globais. “Recebemos, aproximadamente, entre 60 e 70 alunos de mestrado e doutorado todos os anos. “Temos, pelo menos, 60 projetos de pesquisa sendo desenvolvidos anualmente nessas três linhas”, relata Campello.

A linha de pesquisa sobre Contaminação, Degradação e Recuperação Ambiental enfoca os processos de contaminação e degradação de sistemas terrestres, sistemas originados ou proveniente de lagos e costeiros por matéria gasosa, líquida e particulada de origem industrial e doméstica. Os objetivos são a análise do impacto e da acumulação, remobilização e especialização de contaminantes e também o desenvolvimento de estratégias de monitoramento, gestão, valorização e recuperação ambiental.

Já em Biogeoquímica Ambiental, os estudos abordam os processos de transferência, ciclagem e destino de elementos biogênicos e não biogênicos em sistemas continentais, costeiros e oceânicos, focando nas transformações e fluxos de matéria através das interfaces atmosfera-solo, atmosfera-água, água-sedimento e continente-mar. Estudos climáticos, hidrográficos e oceanográficos dão suporte a esta linha de pesquisa.

Finalmente, as pesquisas sobre Paleoambiente, Paleoclima e Mudanças Globais, estudam a reconstrução do clima e mudanças ambientais em sistemas continentais, costeiros e oceânicos durante o Quaternário, enfatizando as mudanças durante o Holoceno e o Pleistoceno. O objetivo é fornecer subsídios à reconstrução do clima global e ajustar as mudanças do passado com o funcionamento atual dos ecossistemas.

Professor Jorge João Abrão

No processo de construção e crescimento da Pós-Graduação em Geoquímica, é importante destacar a participação do professor Jorge João Abrão, que faleceu no mês de março. Ele atuou ativamente na reestruturação do programa ocorrida na década de 80, além de ter sido responsável pela contratação de professores estrangeiros e pela autonomia administrativa do Departamento de Geoquímica.

Professor AbrãoO professor, através de seu empenho, conseguiu o primeiro financiamento para o programa com a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM). “Jorge Abrão era muito obstinado e não se deixava derrotar. Graças a ele pudemos expandir o nosso departamento fisicamente”, ressalta Raimundo Damasceno.

O reitor Sidney Mello destaca a relevância do professor para o Programa de Geoquímica. “Abrão foi o articulador da vinda de importantes pesquisadores para compor a equipe do Lagemar e foi um notável incentivador da pesquisa da pós-graduação. Contribuiu direta e indiretamente na criação de vários programas na universidade, com destaque para a nossa Geoquímica, que é uma referência nacional e internacional. Ele era controverso em ações políticas internas, mas incontestável na busca constante de colocar a UFF no cenário da pesquisa global. Ele sempre teve a minha compreensão e admiração”, conclui.

Congressos

O Programa de Geoquímica está organizando dois eventos para promover os seus 45 anos. De 22 a 25 de agosto acontece, em Búzios, o Congresso Brasileiro de Geoquímica, que é um evento oficial bianual da Sociedade Brasileira de Geoquímica, que está fazendo 32 anos. De 6 a 10 de novembro, acontece, no NAB do campus Praia Vermelha, o HYBAM, uma cooperação internacional do programa com os franceses sobre a hidrologia da Bacia Amazônica.

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