Ao longo dos últimos anos, a pandemia de Covid-19 assolou o mundo. Depois de entender melhor a doença, profissionais da saúde começaram a perceber que cresce o número de pacientes que sobrevivem ao coronavírus, mas permanecem com disfunções de diversos órgãos e sistemas. É a chamada Síndrome Pós-Covid. A partir dela, pesquisadores de diferentes áreas clínicas do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), iniciaram, em julho de 2022, um projeto para diagnosticar, tratar e entender estes pacientes.
– Fica cada vez mais claro que as pessoas que tiveram Covid-19 e se curaram, podem desenvolver sequelas a longo prazo. Ficar bom da fase aguda da doença não significa estar isento de ter algum problema decorrente dela. O que estamos fazendo é tentar contribuir para o conhecimento e o aprendizado necessário sobre a Covid, observando a frequência com que os pacientes vão ter sequelas no decorrer do tempo. É um trabalho de investigação clínica em conjunto com a área assistencial -, explica o nefrologista do Huap e coordenador do comitê do projeto, Jocemir Lugon.
A ação institucional estratégica é fruto de um planejamento da UFF, com estímulo da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Como a síndrome pode trazer complicações respiratórias, neurológicas, cardiovasculares, renais e/ou psicossociais, foi essencial envolver variadas áreas clínica e básica, de múltiplos centros e de diferentes programas de pós-graduação das unidades de ensino. Segundo Jocemir, é necessário monitorar os pacientes após a alta para compreender a amplitude e a gravidade dos efeitos do coronavírus a médio e longo prazos.
– O objetivo principal é investigar, com enfoque multidisciplinar, estes indivíduos. Ao longo dos últimos meses, eles foram recrutados para comparecer a ambulatórios especializados de modo protocolar, visando identificação e exploração diagnóstica de alterações clínico-laboratoriais pós-Covid-19. Atualmente, nosso projeto monitora 64 pacientes. Ainda não há explicação clara que justifique casos de pessoas da mesma faixa etária e/ou com comorbidades equivalentes que podem evoluir de forma absolutamente distinta -, esclarece o médico.
Durante a pesquisa, pacientes são acompanhados e tratados
De acordo com Jocemir, são quatro objetivos clínicos específicos em que as sequelas podem se encaixar: comprometimento pulmonar; sistema nervoso central e/ou periférico; sistema renal; e sistema cardiovascular. Para ser participante do projeto, precisa ter 18 anos de idade ou mais, de qualquer sexo, que tenha matrícula no Huap e exame de PCR positivo para Covid-19 a partir de abril de 2020. Gestantes não podem participar.
O processo de recrutamento de pacientes inicia a partir de uma ligação, seguido de uma entrevista, que conta com questionários e exames iniciais. Jocemir comenta que a pessoa aceita participar da pesquisa por vontade própria. Das 600 pessoas que se encaixam no perfil de monitoramento, o comitê do projeto estima que em torno de 150 irão participar. O nefrologista explica que, independentemente de a pessoa ter alguma sequela ou não, é programada uma visita de avaliação no hospital por semestre, totalizando quatro:
– Precisamos reavaliar a cada seis meses e observar se o paciente desenvolveu alguma coisa nesse meio tempo ou não. É o que chamamos de busca ativa. Então, mesmo que não tenha sintomas, ele vai fazer todos os exames. Existe um protocolo de investigação ao qual ele vai se submeter. No entanto, se identificarmos alguma sequela, esse paciente passa a vir em consultas sob demanda, e não a cada seis meses. Ou seja, caso o médico detecte algo, ele pode marcar consultas em menos tempo para seguir com o tratamento necessário durante o projeto.
Após alguns meses de projeto de pesquisa, já é possível observar resultados preliminares. Dos 64 participantes, 47% alegaram diminuição nas atividades físicas, 77% tiveram redução do vigor físico e 57% afirmaram que o sono piorou após ter a doença. Quando perguntados sobre a saúde geral depois de contrair Covid-19, 26% responderam que está muito pior e 45% que está um pouco pior. Os resultados são referentes a 15/07/2022 a 04/11/2022.
Fonte: Unidade de Comunicação Social do Huap