“A gente quer comida, diversão e arte”: a canção dos Titãs nos lembra que a fome do povo vai além de comida. É também fome de democracia, diversão e felicidade, e aponta o acesso à cultura como um direito de todos(as) que deve ser garantido. Num cenário de tantos retrocessos, Niterói caminha na direção da ampliação do acesso às artes e cultura e acaba de sancionar o Plano Municipal de Cultura, com diretrizes para garantir os direitos culturais e ampliar os projetos neste setor nos próximos 10 anos.
Nessa luta pelo acesso à cultura no dia a dia da população, a UFF, a Prefeitura de Niterói e a Fundação Euclides da Cunha se unem no projeto “Cartografias Territoriais de Redes Colaborativas da Cultura no Município de Niterói”, contemplado pelo Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA). O projeto aponta que é necessário conhecer a diversidade cultural de Niterói para construir políticas públicas de democratização da produção e disseminação da cultura na cidade. Para isso, mapeia os saberes e fazeres artísticos e culturais praticados nos diferentes territórios da cidade.
“A Universidade Pública tem o compromisso político de contribuir para o desenvolvimento da sociedade e a garantia dos direitos das pessoas. O PDPA, uma iniciativa de parceria entre UFF e Niterói, é uma ferramenta para alcançar estes objetivos em diversos campos, da saúde e meio ambiente à educação e cultura. As manifestações culturais têm um papel essencial na sociedade, desde nossa vida cotidiana até as lutas de resistência e busca por direitos. E nesse período sombrio de pandemia que vivemos, cumpriram um papel fundamental. Queremos ampliar de forma inteligente esse direito tão importante na vida de todos”, afirma o reitor da UFF, professor Antonio Claudio Lucas da Nobrega.
De acordo com Jorge Luiz Barbosa, coordenador do projeto e professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia e do Departamento de Geografia da UFF: “O Projeto surgiu da realidade em Niterói: de um lado, a pluralidade da criação artística e cultural presente na cidade e, de outro, as exigências crescentes da sua visibilidade social, principalmente nas manifestações de matrizes africana e afro-brasileira. Diante disso, queremos preencher esse espaço entre conhecer e reconhecer esses saberes e fazeres. Para isso, trazemos a proposta da cartografia territorial: localizar o acontecer das práticas, mapear e valorizar esses espaços comuns de encontros para fortalecer suas existências e colocá-los na cena das políticas públicas. Por outro lado, buscamos mostrar e demonstrar a diversidade da criação artística e cultural da cidade como um patrimônio social que precisa ser protegido e ampliado. O projeto também proporcionou a formação acadêmica de estudantes de graduação e pós-graduação da UFF em atividades de extensão e pesquisa, oferecendo 11 bolsas em um período de um ano.”
Sobre a importância do projeto no município de Niterói, o coordenador explica que: “A cultura promove convivências plurais na cidade. Ela faz encontros diversos. Por isso, tem um papel político fundamental para a democratização da cidade. O projeto planeja impactar Niterói contribuindo para a visibilidade do trabalho de diferentes grupos, coletivos e organizações de arte e cultura inseridos em territórios populares da cidade e reconhecendo suas potências de criação e disseminação em redes colaborativas. E a partir desse impacto, consolidar uma política pública que promova a sustentabilidade de saberes e fazeres culturais. O ganho maior que nosso projeto almeja é a promoção de uma cidade mais afetiva e convivial.”
A iniciativa se encontra na etapa de elaboração dos seus produtos finais e planeja fazer mais, como conta o coordenador: “Até o momento, já realizamos uma ampla pesquisa qualitativa a partir de entrevistas com criadores de cultura em suas diferentes linguagens e modos de expressão. No contexto da pandemia da Covid-19, nos adaptamos e realizamos ações públicas de forma remota, e promovemos seminários de formação e trocas e cursos nessa temática. Atualmente, estamos na fase de edição do livro originado do Seminário Territórios Criativos da Cultura e da construção do Portal Digital, que será lançado em breve, apresentando a rede de organizações, grupos e coletivos de cultura da cidade e suas práticas, junto às demais informações e resultados do projeto para consulta de pesquisadores e público geral.”
Na busca pela garantia do direito à cultura, a parceria entre a UFF e a Prefeitura de Niterói representa uma importante aliança: “O PDPA promove um diálogo efetivo entre a instituição de elaboração e execução de políticas públicas, a Prefeitura, e a esfera de produção do conhecimento científico, a Universidade, prezando a autonomia e valorizando o interesse público e comum. Através dessa ferramenta, a UFF tem uma oportunidade concreta de realizar sua missão de produzir um conhecimento de excelência acadêmica com relevância social. A conexão proporcionada pelo PDPA vai além de recursos de financiamento de pesquisa e extensão: há um enlace através de parcerias técnicas e de promoção conjunta de ações com Secretarias, Fundações e Entidades de Gestão Municipal. No nosso projeto, temos parceria com a Secretaria Municipal das Culturas, com a Fundação de Arte de Niterói e com a Escola de Governo e Gestão, que tanto contribuíram para nossas atividades, inclusive criando ações compartilhadas”, celebra o pesquisador.