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Culturas indígena e africana são destaque em novos cursos do Prolem

Já pensou em aprender Guarani Mbyá ou Yorubá? O Programa de Línguas Estrangeiras Modernas (Prolem) – espaço acadêmico vinculado ao Departamento de Letras Estrangeiras Modernas do Instituto de Letras da UFF – oferece pela primeira vez cursos desses idiomas, já no segundo semestre de 2017, com o objetivo de minimizar as desigualdades étnicas e raciais do ensino superior no Brasil.

O Yorubá é um idioma de origem africana, da família linguística nigero-congolesa, falado por pelo menos 22 milhões de pessoas no mundo, principalmente na Nigéria, Benim, Togo e Serra Leoa. Já o Guarani Mbyá pertence à família Tupi-guarani e é usado por diferentes povos indígenas em países como Paraguai, Argentina, Uruguai, Bolívia e também o Brasil.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, complementada pelas leis 10.639/03 e 11.645/08, o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena passou a ser obrigatório em todos os níveis do sistema educacional brasileiro. Visando implementar essa proposta de cunho social, o Prolem agora oferece os cursos de Yorubá e Guarani Mbyá com duração de quatro semestres.

A oferta dos cursos é parte do projeto Encontro de Saberes – surgido no marco da elaboração e implementação de políticas de inclusão e ações afirmativas no Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Universidade de Brasília (UnB) e no Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), implantadas em diversas universidades públicas brasileiras, em nível de graduação e pós-graduação, dentre elas a UFMG, UFJF, UFRGS, UECE, UFSC e o Museu Nacional/UFRJ.

O objetivo do Encontro de Saberes é mapear, avaliar e interpretar o efeito das políticas de inclusão étnica e racial no ensino superior, especialmente seu impacto nos campos político, epistemológico, sociológico e geopolítico. “A ideia é produzir e disponibilizar um corpo de conhecimento que fundamente as propostas e diretrizes governamentais, políticas públicas e programas de ação específicos para a promoção da inclusão e a superação das desigualdades étnicas e raciais no ensino superior brasileiro”, explica o coordenador do projeto José Jorge de Carvalho (UnB).

Já, na UFF a proposta do Prolem é a de contribuir, através de uma atividade extensionista, com a criação de um ambiente de motivação, conhecimento e reflexão em torno das temáticas afro-brasileiras e indígenas. Apesar do estudo ser promovido pelas leis citadas, as línguas de expressão não fazem parte do currículo oficial de nenhuma das licenciaturas existentes nos cursos de Letras da instituição, afirma a coordenadora pedagógica dos cursos Viviana Gelado, “Tratam-se de línguas que foram marginalizadas ao longo do processo de institucionalização do estado e da cultura modernos, mas que são constitutivas da heterogeneidade cultural brasileira”, ressalta.

Diminuindo desigualdades étnicas e raciais

Segundo Viviana, a UFF é uma das pioneiras no estudo das literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil e conta com disciplinas de História da África, criadas nos últimos anos e ministradas por docentes com pesquisa na área. Além disso, conta com pesquisas relativas às populações indígenas e afro-descendentes no país, e com a inclusão dos saberes produzidos por essas populações em disciplinas de diversas áreas, como antropologia, psicologia, educação, história, letras, geografia, arquitetura e medicina. Entretanto, o estudo das línguas pelas quais essas populações se expressam não foi objeto de ensino/aprendizagem nos cursos de graduação ou pós-graduação ministrados na universidade, mas foi realizado individualmente por pesquisadores da instituição.

Desta forma, a partir da aprovação das leis que instituíram a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena em todos os níveis de ensino no Brasil, e da implementação da política de cotas, a UFF foi inserindo progressivamente os saberes produzidos por essas comunidades culturais na grade curricular de alguns dos seus cursos de graduação e pós-graduação. No entanto, essa inserção se deu seguindo o mesmo paradigma epistêmico europeu, legado do processo de colonização e razão histórica principal da marginalização ou exclusão desses saberes no âmbito do sistema de educação formal.

A metodologia

Guarani Mbyá e Yorubá são línguas exclusivamente orais, ou seja, não possuem sua forma escrita. De acordo com a coordenadora do projeto, a perspectiva que assume o ensino desses idiomas no Prolem é cultural, priorizando uma abordagem em que a língua é estudada como meio de expressão de universos culturais diferentes do europeu.

Como material para o estudo do Guarani Mbyá e do Yorubá, existe uma produção bibliográfica que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos, desde as sistematizações promovidas pelo interesse das metrópoles imperiais nas Américas e na África Ocidental até os dicionários, gramáticas e coletâneas de narrativa, teatro e poesia contemporâneas – elaboradas por especialistas e estudiosos membros das respectivas comunidades linguístico-culturais. Assim, a metodologia em sala de aula integrará uma introdução a formas narrativas e poético-musicais com o estudo sistêmico de ambas as línguas.

Os dois professores que ministrarão as aulas são falantes nativos dos idiomas, agentes culturais de suas respectivas comunidades linguísticas e possuem formação acadêmica nas áreas de Educação e História Intercultural Indígena (UFSC) e em Letras (Universidade D’Abomey-Calavi, Benim). Além disso, eles possuem experiência no ensino de Guarani Mbyá e Yorubá como línguas segundas ou estrangeiras para brasileiros, em diversos níveis e modalidades, em outras instituições acadêmicas do país.


Inscrições

Para a coordenadora, a expectativa é que os cursos sejam não só de interesse da comunidade acadêmica, como da comunidade externa. Neste sentido, é importante frisar que se trata de cursos que atendem à política de cotas instituída pela UFF, bem como promovem a inclusão epistêmica dos saberes das comunidades que se expressam nessas línguas. De acordo com esses perfis e propósitos, os alunos terão descontos expressivos nas mensalidades.

O público do Prolem está dividido, basicamente, em quatro grandes categorias: estudantes universitários (50%), servidores públicos (20%), idosos e aposentados (15%) e público externo (15%). Do total de matrículas, aproximadamente metade dos participantes faz parte da comunidade acadêmica da UFF, entre estudantes, docentes e técnicos administrativos. Por se tratar de um Programa de Extensão, podem ser inscrever interessados da comunidade interna e externa, com comprovação de ensino fundamental completo e mais de dezesseis anos.

As aulas de Guarani Mbyá serão ministradas aos sábados, das 8h30 às 11h45, e as de Yorubá às terças-feiras, das 18h30 às 21h40 e sábados das 8h30 às 11h45. As matrículas devem ser realizadas presencialmente no Prolem – 3º andar (sala 316) do bloco B do Campus do Gragoatá até o dia 18 de agosto com vagas limitadas.

Para outras informações, entre em contato pelo telefone (21) 2629-2517 ou pelo e-mail prolem.atendimento@gmail.com.

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