A Baía de Guanabara é caracterizada por uma junção de elementos geomorfológicos, físicos, químicos e ecológicos, além de pela influência humana dos municípios do entorno, que conferem a ela uma complexidade de interações muito ricas e específicas. No entanto, a urbanização desprovida de infraestrutura e saneamento básico tem degradado intensamente a qualidade da água desse ambiente, especialmente em virtude do lançamento de esgotos sem o devido tratamento.
Na UFF, foi inaugurado em 2016 o Laboratório de Ecossistemas e Mudanças Globais (Lemg), cuja missão é priorizar estudos transdisciplinares relacionados aos efeitos das mudanças globais sobre os ecossistemas tropicais, inclusive na Baía de Guanabara. Seu foco principal é a Biogeoquímica, ciência que estuda os processos intermediados pela atividade biológica e liberam à atmosfera gases estufa de carbono.
Nesse contexto, tem sido estudado especialmente ecossistemas aquáticos desde áreas interiores – como Amazônia e Pantanal – a lagoas costeiras, baías e regiões marinhas de plataforma na costa do Brasil. O Lemg reúne cerca de 27 alunos de iniciação de científica e da pós-graduação, além de professores de diferentes áreas das ciências da natureza, abrangendo Geografia, Biologia, Geofísica, Química e Engenharia, os quais são beneficiados por estrutura multiusuária para análise de CO2 e CH4 em uma central de referência na UFF (CADEstufa/UFF).
O Lemg possui um grupo multidisciplinar envolvendo diferentes áreas das Ciências Naturais e da Terra de três grandes universidades do estado do Rio de Janeiro. Os professores e pesquisadores Luana Pinho (Uerj), Vinícius Peruzzi (UFRJ) e Humberto Marotta (UFF) mantêm uma parceria e realizam estudos sobre a produção e a emissão de gases de compostos capazes de intensificar o aquecimento da biosfera por efeitos estufa.
A poluição é um agente que pode causar ainda mais problemas do que os já conhecidos”, Humberto Marotta.
Nesta parceria, a UFF entra especificamente com a Central Analítica de Alto Desempenho para Determinação de Gases do Efeito Estufa (CADEstufa/UFF). Nessa central, são analisados os gases dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), compostos que apresentam a propriedade de intensificar o aquecimento global. A logística do projeto é gerenciada por professores responsáveis pelas análises de qualidade de água e outros parâmetros biológicos.
De acordo com a professora da faculdade de Oceanografia da UERJ, Luana Pinho, além do reconhecido papel da queima de combustíveis fósseis e biomassa, são cada vez mais evidenciados os processos que liberam à atmosfera significativas quantidades de gases estufa a partir do aumento da decomposição de vastos estoques de matéria orgânica dos ecossistemas. “Regiões como a Baía de Guanabara são sítios preferenciais aos aportes de restos vegetais das florestas, que alcançam suas águas pela infiltração da água da chuva nos solos e pela contribuição direta de rios ou do escoamento superficial de água. A atividade de algas nas próprias baías pode representar outra importante fonte de fixação de gases estufa em matéria orgânica”, explica.
Uma das ações do Lemg com foco de monitoramento é o Projeto Ecológico de Longa Duração da Baía de Guanabara, que vem sendo coordenado pelo professor Jean Valentin (UFRJ). Bimensalmente são realizadas coletas em dois pontos da Baía de Guanabara, um com mais influência de esgotos junto à Ilha do Governador e outro com maior troca de água com o oceano Atlântico em porção próxima do vão central da ponte Rio-Niterói. “Uma novidade é o início de monitoramento de 24 horas em um sistema totalmente contínuo, cujos testes foram de total êxito e seu início ocorrerá em 2018. Será o primeiro monitoramento de 24 horas em sistema contínuo diretamente da praia por meio de sistema de tubulações, visando avaliar os efeitos de longo prazo da poluição sobre a emissão de gases estufa à atmosfera”, esclarece o professor do Instituto de Geociências da UFF, Humberto Marotta.
O sistema operacional coordenado pelo professor Humberto está sendo montado em colaboração com os professores Luana Pinho e Letícia Cotrim (ambas do Instituto de Oceanografia/UERJ) e do professor Vinicius Peruzzi (Instituto de Biologia/UFRJ) nas dependências do Hangar da Engenharia Naval da Ilha do Fundão (UFRJ).
Para Humberto, esse estudo de qualidade da água e gases do efeito estufa permite diagnosticar os efeitos da poluição sobre o potencial de compostos que intensificam o aquecimento global. Dessa forma, pode-se gerar subsídios a governos e empresas sobre a temática. O professor afirma ainda que há dois impactos da pesquisa sobre o entorno da Baía: o primeiro é um confiável indicativo de qualidade da água da praia da Ilha do Fundão, que é crucial para determinar os usos de uma parte da Baía de Guanabara atualmente utilizada por uma população para fins de lazer, renda pesqueira ou de frutos do mar; o segundo é um melhor entendimento dos efeitos da poluição também sobre a emissão de gases do aquecimento global com implicações tanto locais, quanto de maior abrangência.
Marotta finaliza relatando que os resultados parciais da pesquisa apontam um potencial papel social destes estudos. “A poluição é um agente que pode causar ainda mais problemas do que os já conhecidos. Para o futuro, nós pretendemos dar continuidade ao nosso projeto para obter resultados mais robustos”, conclui.