Ferramenta inédita vai monitorar em tempo real o risco de deslizamentos na comunidade Coronel Leôncio, na Engenhoca, bairro da cidade de Niterói. A iniciativa é da Universidade Federal Fluminense (UFF) através do projeto de extensão “Comunidade em Alerta: mapeando e monitorando os riscos geológicos”, vinculado ao Programa UFF SOS Comunidade, da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), em cooperação com a Prefeitura Municipal e a Defesa Civil de Niterói. O monitoramento na comunidade está previsto para o primeiro semestre de 2016, e posteriormente será implementado em todos os locais de risco geológico do município.
Desenvolvido pelo professor do Departamento de Análise Geoambiental e coordenador do “Comunidade em Alerta”, Elias Arruda, o projeto é o único no mundo a acompanhar de forma dinâmica o risco de deslizamento. O que permite o exame imediato é a plataforma TerraMA², objeto de estudos do pós-doutorado do professor. “Nós desmontamos uma equação clássica de escorregamentos e implementamos o sistema na plataforma para, pela primeira vez, o TerraMA² estar operacional em monitorar deslizamentos. O nosso projeto é o primeiro a rodar o sistema, usá-lo operacionalmente para esse fim”, explicou Arruda. Para tanto, dois mapas foram necessários: o Mapa de Susceptibilidade e o Mapa de População.
O primeiro mapa representa as áreas com risco de deslizamento e é gerado em tempo real por meio da equação implementada pelo projeto mediante dados coletados automaticamente por pluviômetros, radares meteorológicos e dados de previsão e observação por satélite de instituições, como o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe). Esses dados foram somados a parâmetros de solo e variáveis extraídas da altimetria da comunidade Coronel Leôncio, obtidos através da tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging), um sensor remoto ativo investido no projeto pela Prefeitura de Niterói.
Somou a vontade de colocar em prática os conhecimentos da universidade, com a necessidade do município de proteger sua população dos escorregamentos” Catarina Ribeiro.
Já o Mapa de População é composto pela localização geográfica de cada residência e os atributos físicos do imóvel, além do perfil socioeconômico de seus moradores. Esses dados são importantes para prevenir desastres porque permitem saber não apenas quais casas estão em maior risco, como também se há algum indivíduo mais vulnerável a esses eventos, como idosos, crianças e pessoas com deficiência. Este mapa é o resultado do levantamento de campo, realizado em setembro de 2015, pela equipe do programa de extensão “UFF SOS Comunidade”, com o auxílio da Associação de Moradores da Coronel Leôncio. O cruzamento de dados dos dois mapas deu origem ao Mapa de Risco da Comunidade Coronel Leôncio, o qual a Defesa Civil já tem acesso.
Com os dados introduzidos na plataforma TerraMA2, sobre a base cartográfica da cidade, é possível realizar o monitoramento de forma imediata do risco de deslizamentos de cada local, de forma que a Defesa Civil, que será capacitada pelo Comunidade em Alerta a utilizar o sistema, possa agir na prevenção de desastres naturais. Os programas da Proex UFF SOS Comunidade e Núcleo de Ensino e Pesquisas em Urgências (NEPUr) passaram a ter, a partir de dezembro de 2015, um espaço próprio dentro do prédio da Defensoria Civil de Niterói. Desde 2014, a UFF e a Defesa Civil mantêm um convênio, com a duração de três anos, para fortalecer sua parceria.
Os desastres naturais são focos de ações da UFF desde 2010, quando na noite de 7 abril, 48 pessoas morreram e centenas de casas ficaram soterradas no evento conhecido como “Tragédia do Morro do Bumba”. Nesta época, professores, alunos e funcionários da universidade agiram de forma voluntária para ajudar as vítimas das 160 comunidades afetadas pela chuva. “No começo éramos apenas um grupo de pessoas. Com a criação do ‘UFF SOS Comunidade’, formamos uma rede com profissionais de todas as áreas”, declarou Maria Lúcia Teixeira, coordenadora do programa.
O índice de ocorrência de desastres geológicos ainda é uma preocupação para Niterói. De acordo com o site da Defesa Civil, em 2014, o órgão recebeu 743 solicitações de auxílio. Desse total, 143 referentes a deslizamento de solo, o equivalente a 15% das chamadas atendidas. Tendo em vista a necessidade de prevenção contra esses desastres, Catarina Ribeiro, moradora da Engenhoca e supervisora do “SOS Comunidade”, relatou que o projeto “Comunidade em Alerta” nasceu da proximidade do Programa UFF SOS Comunidade com a região. “Somou a vontade de colocar em prática os conhecimentos da universidade, com a necessidade do município de proteger sua população dos escorregamentos”, contou Catarina.