A música divide opiniões. Alguns gostam dela dentro de uma arena lotada de gente; outros, tocando no rádio da cozinha; com pouco ou muito volume; no gênero rock, funk ou sertanejo; estando sozinho ou a dois. Mas uma coisa é certa: todos a amam. É nesse clima de amor que acontecem os encontros do Clube do Vinil, projeto de extensão coordenado pela professora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFF, Simone Pereira de Sá, em parceria com doutorandos e mestrandos do programa. Com cerca de três eventos abertos ao público em cada semestre, o clube reúne amantes da música para ouvir discos e conversar sobre eles com especialistas, de forma descontraída e também muito informativa.
Apesar de o nome ser sugestivo, o projeto não reúne colecionadores de vinil, mas promove a escuta comentada de álbuns – clássicos ou atuais – nesse formato e também nas plataformas digitais. De acordo com a coordenadora: “Não temos um olhar nostálgico para o passado, mas buscamos compreendê-lo em diálogo com o presente. O vinil é utilizado para despertar um conjunto de discussões sobre a cadeia produtiva da música de maneira mais ampla. As discussões abordam os aspectos históricos, socioculturais e econômicos da indústria fonográfica, pensando a música como um importante produto cultural e midiático”.
O Clube do Vinil é legal demais pra ser uma aula, mas, no fim das contas, acaba sendo”, Paulo Vitor Soares.
O evento, que possui uma característica inclusiva, buscando ampliar o contato da universidade com a comunidade, ocorre em uma sala de aula decorada tematicamente e, enquanto houver espaço, é permitido entrar! Na época da Copa do Mundo, por exemplo, a sala foi transformada em miniestádio, onde aconteceu a escuta com o tema “Músicas para eventos esportivos”. Segundo Simone de Sá, desde a versão inaugural do projeto, em 2012, foram muitas as situações marcantes: “tivemos momentos incríveis como uma performance de uma drag queen na escuta do vinil da Lady Gaga. Outro momento inesquecível foi o da sala lotada durante a escuta do Secos e Molhados e das fotos feitas a partir de uma cenografia que reproduziu a capa do álbum fielmente, com as cabeças dos integrantes ‘servidas’ numa bandeja”.
Grande parte dessas ideias é proposta e desenvolvida pelos alunos de graduação do curso de Estudos de Mídia, que têm participação ativa em todas as etapas do projeto. São eles, por exemplo, que escolhem os álbuns e fazem pesquisas em torno das temáticas de cada edição do evento. Segundo Simone de Sá, “o grupo funciona de maneira horizontal” e os graduandos têm centralidade no processo. O doutorando e também coordenador do projeto, Jonas Pilz, complementa dizendo que sua experiência com o trabalho tem sido a melhor possível, sobretudo “pelas trocas com estudantes, suas ideias e as soluções que apresentam para o desenvolvimento das atividades do clube”.
Paulo Vitor Soares, um dos alunos de graduação que participa do projeto, conheceu o clube antes mesmo de entrar para o curso: “eu fazia Relações Internacionais e fui a uma escuta do álbum ‘Beyoncé’. Na época, estava cogitando mudar de curso e aquela atividade foi uma das que mais me animou a fazer a transição”. O aluno relata com empolgação alguns dos encontros de que fez parte: “no início do ano fizemos a escuta de ‘Ney Matogrosso versus Johnny Hooker’ com o objetivo de, além de discutir a trajetória, os distanciamentos e convergências do discurso de cada um, propor um debate mais amplo sobre a ‘nova’ e ‘velha’ MPB, deixando aos alunos o debate sobre a tensão entre essas ideias”.
Para Simone de Sá, o curso de Estudos de Mídia da UFF, pioneiro na América Latina, surgiu “no contexto de reconfiguração da comunicação a partir da cultura digital, buscando oferecer aos alunos uma formação multidisciplinar privilegiando a compreensão ampla do cenário midiático atual. Inaugurado em 2003, ele é organizado em eixos temáticos, dentre os quais se destacam a indústria e a cultura da música e do audiovisual – incluindo aqui documentários e videoclipes sobre música. Dessa maneira, o Clube do Vinil desdobra discussões desenvolvidas em disciplinas como: Cultura Pop, Teoria dos Gêneros Musicais, Teoria do Rock e Economia Política da Música, dentre muitas outras. Além disso, ele dialoga também com outros projetos de extensão, outros ‘clubes’ do curso, tais como o Game Clube, o Meme Clube e o Série Clube, todos criados para oferecer espaços de reflexão extraclasse aos estudantes”, explica.
De acordo com a professora, são muitos os aprendizados para quem participa dos projetos desenvolvidos em Estudos de Mídia. No caso do Clube do Vinil, além de discutir a contextualização da música nos dias de hoje e entender essas novas práticas de escuta, explica ela, os alunos podem “desenvolver habilidades necessárias à comunicação atual, que poderá ser útil como experiência quando forem em busca de estágio, aprendendo sobre mídias digitais, assessoria de imprensa e produção de eventos”. Segundo Jonas, que corrobora a ideia, o projeto tem uma “contribuição importante para a formação profissional de quem participa, sendo tanto uma oportunidade de aprendizado quanto de colocar em prática algumas expertises”.
Que o diga a mestranda Tatyane Larrubia, uma das coordenadoras, que entrou para o clube quando ainda era estudante da graduação de Estudos de Mídia: “além de discutir sobre música, contextualização e importância de gêneros e artistas na sociedade, também havia o objetivo de ‘colocar a mão na massa’ e aprender sobre produção de eventos, divulgação, pós-produção etc. Na época, ajudei criando algumas artes para divulgação, planejando sorteios para os eventos, pensando nas escolhas das próximas escutas e também na assessoria de imprensa. Neste ano de 2018, passei para o mestrado e entrei para a coordenação do clube, mais especificamente na área de assessoria de imprensa. Por já ter estado ‘do outro lado’, me empenho em fazer com que os graduandos da minha equipe aprendam o ofício de assessorar um cliente, para que, quando forem buscar estágios, possuam essa primeira experiência no currículo, que muitas vezes pode ser o diferencial para conquistar uma vaga. É muito gratificante poder colaborar novamente – e até com uma responsabilidade maior – com um projeto que muito ajudou na minha formação”.
Segundo Paulo, o projeto combina de forma única diversão e informação: “o clube é uma forma ‘descolada’ de discutir temas que a academia aborda e que muitas vezes as pessoas não olham como um objeto de estudo, por ser algo tão lúdico. E é exatamente nesse ponto que está a graça do Clube do Vinil, porque ele é legal demais pra ser uma aula, mas, no fim das contas, acaba sendo”.
Para acompanhar a programação, é só acessar:
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