“Araci”, nome que em Tupi-Guarani significa “aurora”, possui também o significado de oportunidade. Através da Incubadora de Projetos de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense, novas gerações de cineastas encontram terreno fértil para poderem se desenvolver. As professoras do Departamento de Cinema, India Mara Martins e Elianne Ivo, são as responsáveis pela coordenação do projeto.
O principal objetivo da Araci é conscientizar os alunos sobre a natureza intermitente do trabalho audiovisual e a necessidade de pensar em projetos de forma permanente, estimulando-os a criar conteúdos inovadores para multiplataformas. A proposta é que o contato com estas ações e suas peculiaridades prepare melhor o aluno de graduação para enfrentar o mundo do trabalho fora da universidade.
De acordo com um estudo realizado pelo UOL em 2016, a indústria de cinema e televisão injeta diretamente R$ 23 bilhões por ano na economia brasileira e o faturamento bruto do setor é de R$ 55,4 bilhões, sendo responsável por 0,38% da economia brasileira. A retomada da bilheteria após a pandemia deu um passo importante rumo à normalidade no primeiro trimestre de 2022 e, segundo dados do site Legado+, o público dos filmes nacionais em 2022 ultrapassou dois milhões. Nesse cenário, a Araci possui um grande papel na valorização dos profissionais e das obras nacionais. A professora Índia Mara afirma que “a criação de público para o cinema nacional sempre foi uma preocupação para docentes e discentes dos cursos de graduação e pós-graduação em cinema e audiovisual. Então, o crescimento do público, mesmo num momento de crise pós-pandêmico é um alento para todos”.
Segundo a professora, a ideia de construir a Araci foi motivada pelo desejo de organizar uma estrutura que pudesse reunir os projetos desenvolvidos por discentes e docentes do Departamento de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual em uma perspectiva ativa diante do mundo do trabalho. “A própria expressão ‘mundo do trabalho’ foi adotada para evidenciar uma relação diferente com o ‘mercado de trabalho’. Não se trata de colocar a universidade e os profissionais qualificados à reboque do mercado de trabalho, mas sim de ter uma postura ativa, desenvolvendo novas relações, novos processos e modelos de negócios. O audiovisual é uma área que está em constante desenvolvimento tecnológico e cultural; então exige uma postura diferenciada dos profissionais”, afirma.
A incubadora busca o desenvolvimento de projetos audiovisuais em parceria com cidades próximas que têm interesse de possuir ou já possuem polos audiovisuais e Film Commissions – organizações que realizam o combate à pirataria –, oferecendo cursos nas áreas técnicas da produção audiovisual para a comunidade. Tais medidas podem tanto beneficiar os alunos do próprio Departamento de Cinema, ao lhes apresentar um conhecimento mais técnico sobre os aspectos de uma produção audiovisual, quanto a população local, ao ser realizada a contratação de profissionais qualificados para atuarem no campo do audiovisual.
No entanto, como aponta Índia Mara, a busca por estender uma série de atividades de formação para esses grupos, gerando renda e novos postos de trabalho, apresenta desafios.. Segundo ela, “isso depende de políticas locais e nacionais de geração de empregos e qualificação técnica dos profissionais locais”.
Para também incentivar o envolvimento dos discentes com as produções cinematográficas, o projeto criou o seu próprio aplicativo de celular, o “Araci.lab”. Em parceria com a Superintendência de Tecnologia da Informação (STI) da UFF, o Araci.lab foi disponibilizado nas plataformas Apple Store e Google Play. Trata-se de um repositório de conteúdos formativos voltados para o desenvolvimento profissional de estudantes de Cinema e Audiovisual. Após a sua instalação no celular, é possível realizar a inscrição ou, até mesmo, participar de atividades online, como workshops, palestras e cursos.
Logo do aplicativo de celular “Araci.lab”. Créditos da foto: Instagram
A UFF, através da Agência de Inovação, promove a consolidação do projeto da Araci através de apoio logístico e também do convite para integrar projetos em parceria com outras incubadoras e laboratórios, possuindo também parcerias com os cursos de Nutrição, Computação e Design. Dessa forma, é possível ampliar ainda mais esta relação com outros departamentos, envolvendo docentes, discentes e técnicos de toda a universidade.
Apesar da crise econômica, a indústria cinematográfica do Brasil tem se desenvolvido nos últimos anos, em grande parte devido ao apoio governamental na área. Nesse cenário, embora haja leis de incentivo à cultura, o modelo de negócios do mercado audiovisual não se limita a elas, o que muitas vezes dificulta a contratação de profissionais. Assim, uma das maneiras de se colocar no mundo do trabalho é evidenciando sua capacidade produtiva e criativa através de diferentes produções. A Araci, nesse contexto, tem a intenção de impulsionar ideias, propor equipes de trabalho e estimular uma dinâmica laboral eficiente, para que os discentes em formação e os egressos recentes possam se expandir para fora da universidade e ganhar autonomia.