Buscando entender o funcionamento e as consequências das transformações ambientais ligadas a questões climáticas, a professora do Departamento de Geografia, Rosemary Vieira, criou o Laboratório de Processos Sedimentares e Ambientais (LAPSA), que realiza estudos na Península Antártica e nas montanhas Ellsworth, através de expedições realizadas anualmente, além de desenvolver projetos no Brasil, na região amazônica e em lagunas costeiras, como a Baía de Guanabara.
Os estudos se fundamentam principalmente na coleta e análise de sedimentos marinhos (dos mares), lacustres (dos lagos) e terrígenos (da terra ou do continente) e de dados geofísicos. Com os sedimentos são feitas análises granulométricas, composição mineralógica, análises biogeoquímicas e datação, entre outras atividades. Já os dados geofísicos geram mapas e visualização em 3D do fundo marinho, além de imagens do subfundo. Com isso, são identificadas e interpretadas as características morfológicas do relevo e também das geleiras mediante imagens de satélites.
Com pesquisas baseadas na paleoclimatologia, ou seja, nas variações climáticas ao longo da história da Terra, o grupo analisa a sedimentação, que tem o potencial de construir um arquivo de eventos, registrando a sequência de processos locais. “O exame cuidadoso de sedimentos e das geoformas – submarinas e subaéreas – tem o potencial de revelar variações dos padrões dos processos sobre a superfície em escala temporal e espacial, permitindo a reconstrução de ambientes passados e mudanças ambientais”, explica a professora Rosemary.
Para que haja um entendimento amplo dos processos estudados, o LAPSA promove interações com outras unidades da UFF, tais como os institutos de Física e Biologia e os laboratórios da Engenharia Química. Além disso, o laboratório é parte integrante do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que compõe o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT-Criosfera). As parcerias se estendem ainda para Universidades e Centros de Pesquisa estrangeiros, como a Universidade do Chile e o Instituto Antártico Chileno.
Expedição Antártica
Considerada um laboratório natural por muitos pesquisadores, a Antártica é um continente extremamente preservado e sensível a variações. O estudo desta região é fundamental para o entendimento das questões climáticas, afinal, o que acontece lá pode influenciar diferentes meios,
incluindo a agricultura e o regime de chuvas do Brasil, por exemplo, como explica o doutorando Fabio José Guedes Magrani. “A América Latina é impactada diretamente pelo que acontece no clima da Antártica. As
massas de ar polar vindas da região ocasionam frentes frias no Brasil e as águas geladas da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, são correntes Antárticas, por exemplo”.
Coordenada pelo professor Arthur Ayres Neto, a expedição Antártica é realizada todos os anos e dura em torno de 30 dias. Com participação ativa dos estudantes de graduação, mestrado e doutorado, os pesquisadores trabalham nos navios da Marinha do Brasil que levam os grupos de pesquisa para a região. “Durante o período em que estamos lá, fazemos principalmente aquisição de dados e processamentos de amostras que tenham que ser feitos imediatamente”, descreve Arthur.
A partir do lançamento de tubos que coletam testemunhos – amostras do fundo do mar com, em média, seis metros e que representam aproximadamente 10 mil anos de história – o grupo adquire as informações necessárias para dar andamento à pesquisa quando retorna ao laboratório no Brasil. “Essas informações fornecem pistas importantes sobre a origem, a área fonte, que processos atuaram no transporte e na deposição, entre outras”, explica Rosemary.
LAPSA na Amazônia e Baía de Guanabara
O laboratório atua também em projetos desenvolvidos em ecossistemas tropicais, coordenados pelo professor Humberto Marotta. Tais projetos realizam análises no interior e na costa do Brasil, por meio do convênio iberoamericano entre Brasil, Chile e Espanha, que formam a rede Laboratório Internacional de Mudanças Globais.
A participação em diferentes expedições em lagos no interior da Floresta Amazônica e do Pantanal desde o início das atividades do LAPSA tem buscado a obtenção de dados para um melhor entendimento dos efeitos das mudanças globais sobre a produção e a apreensão de gases que incrementam o aquecimento global pelo denominado efeito estufa. “Ao longo dos últimos anos, estudou-se uma ampla variedade de lagos, os quais recebem águas, por sua vez, de grandes rios amazônicos, como Amazonas, Negro e Tapajós, ou do Pantanal, como Paraguai e Miranda”, relata Humberto.
Nas zonas costeiras há inserção em projetos interinstitucionais como o Programa Ecológico de Longa Duração da Baía de Guanabara. O objetivo de tal programa é avaliar o papel da poluição sobre a liberação de gases que contribuem ao aquecimento global, questão essencial no estudo das alterações do clima.