A maior tragédia da história de Petrópolis ocorreu no início deste ano. Em fevereiro de 2022, mais de 170 pessoas foram vítimas das fortes chuvas que atingiram a região, provocando inundações e deslizamentos de terra. Catástrofe similar aconteceu também em Niterói, em 2010, no morro do Bumba. Pensando na prevenção de novas tragédias climáticas e sabendo das consequências provocadas pelos desastres, o Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental (TER) da Universidade Federal Fluminense (UFF) atua desde 2017 na criação de dois dispositivos que monitoram a estabilidade de encostas e focos de incêndio, através de sensores de baixo custo.
A iniciativa faz parte do Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA), parceria da UFF com a prefeitura de Niterói e apoio da Fundação Euclides da Cunha (FEC), fomentando experiências e resultados práticos que visam a solução de problemas do município nas áreas de maior risco.
Com a expectativa do projeto em aumentar a rede de monitoramento de estabilidade de encostas e focos de incêndio nos locais do estudo, o reitor da UFF, Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, pontua os benefícios para Niterói.
“Niterói é a cidade piloto para os testes deste grande projeto, de extrema urgência para o município e demais regiões do estado e do país. As tragédias climáticas tornam-se cada vez mais frequentes e o papel da Universidade, de modo sinérgico e criativo, é propor soluções que previnam perdas materiais, emocionais e físicas. Através do PDPA, com o olhar estratégico da prefeitura e expertise da UFF, iniciamos mais essa ação, que tende a trazer benefícios reais para a população niteroiense, através de uma rede de monitoramento constante e inteligente. Acreditamos no potencial dos nossos pesquisadores, do projeto, que pode servir de modelo para a implementação em outras regiões. Sigamos, assim, com o nosso propósito e missão de fazer a diferença na vida das pessoas”, destaca o Antonio Claudio.
Os protótipos já são funcionais e estão instalados no campus da UFF na Praia Vermelha. Atualmente estão em fase de testes de operação, durabilidade e autonomia. A próxima etapa da pesquisa é a instalação dos sensores nas localidades de interesse indicadas pela prefeitura, possibilitando o monitoramento piloto dos locais.
Segundo o coordenador do projeto, professor Ivanovich Salcedo, as equipes executora e técnica têm se reunido para avaliar os avanços da proposta e discutir os desafios encontrados no desenvolvimento do projeto, sempre em consonância com a Defesa Civil.
“Graças a interação com a defesa civil de Niterói foi possível entender melhor as necessidades de monitoramento de incêndios e deslizamento de massa. Assim, por exemplo, foi decidido adicionar sensores de umidade de solo para complementar as medições de movimento de massa. Essa informação complementar tem aberto novas linhas de pesquisa, além de auxiliar no diagnóstico que será realizado pela Defesa Civil”, explicou o professor.
A aluna do 9º período de Engenharia de Recursos Hídricos e Meio Ambiente e bolsista do PDPA, Clara Gadelha, explica as questões técnicas do projeto. Segundo a estudante, o equipamento de previsão de deslizamento de encostas é um instrumento de baixo custo, que detecta movimentos de massa e é controlado pelo microcontrolador Arduino. O equipamento informa a aceleração do movimento, o ângulo de inclinação e rotação para determinados eixos. Tais dados ajudam a monitorar a estabilidade da encosta em tempo real, à medida que será possível saber se o módulo sofreu alguma aceleração ou se sofreu alguma mudança de posição.
Já o segundo sensor, o higrômetro, mede o teor de umidade do solo, fator importante para o desencadeamento de movimento de massa. Esse dispositivo deve ficar em contato direto com o solo para informar o percentual de umidade, a partir de uma calibração previamente estabelecida para a plataforma online.
“Uma vez que nós possamos validar nosso protótipo nos testes na cidade, acredito que, dado o seu baixo custo, será uma ótima oportunidade para demais municípios. Tanto o deslizamento de terra e os incêndios são problemáticas que assolam diversas cidades no Brasil e no mundo. Agora, em especial no Rio de Janeiro, devido às suas características de formação do solo e ocupação urbana não planejada, desastres como os que aconteceram em Petrópolis esse ano acontecem há décadas no Estado. Já para os incêndios acredito que seria muito importante, sobretudo em regiões de parques nacionais e conservação ambiental em geral”, pontuou a bolsista Clara Gadelha.
Graças a parceria com a Defesa Civil e técnicos da Prefeitura de Niterói, novos protótipos podem ser melhorados a partir dos experimentos feitos nos diferentes pontos da cidade. Com este auxílio, os pesquisadores são capazes de desenvolver um dispositivo efetivo de monitoramento ambiental e com a finalidade de salvar vidas.