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UFF Responde: Câncer de pele

Estudo do Instituto Nacional do Câncer estima mais de 220 mil casos até 2025

Em dezembro, ocorre a campanha nacional de conscientização sobre o câncer de pele chamada “Dezembro Laranja”, criada em 2014 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) para abordar os cuidados necessários para a prevenção da doença. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o número de casos novos de câncer de pele não melanoma estimados, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 220.490. Para casos de melanoma, essa estimativa gira em torno de 8.980.

Com a chegada do verão, os cuidados com a pele devem aumentar, uma vez que, no Brasil, essa época do ano encoraja a realização de atividades físicas e de lazer ao ar livre, fato que aumenta a exposição das pessoas ao sol, que pode resultar em um aumento no número de casos do câncer de pele. No mês de dezembro, o ambulatório de dermatologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP-UFF) realizará atendimentos gratuitos para a população.

Neste UFF Responde, convidamos a professora do departamento de Medicina Clínica da UFF, Sandra Durães, para esclarecer os principais detalhes sobre o câncer de pele, como sintomas, diagnósticos e tratamentos.

O que é o câncer de pele? Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de pele?

Sandra Durães: São doenças que ocorrem pela proliferação anormal de células da pele. Um dos principais fatores é o tom de pele. Existe uma classificação dos tipos de cor de pele, que vai de um a seis, com 27 tons incluídos conforme a quantidade de melanina que o indivíduo possui. O tipo 1, por exemplo, seria aquela pele bem branca, que nunca se bronzeia, enquanto o tipo 7 é o tom de pele preto, que possui bastante melanina. Então, quanto mais clara a pele, maior o risco de desenvolver o câncer. Além disso, quanto maior for o tempo de exposição ao sol durante os anos, maior o risco de desenvolver o câncer de pele, porque o dano solar causado pela ultravioleta é cumulativo ao longo da vida. Se existe um histórico familiar de casos da doença, maior o risco de desenvolver a enfermidade.

Quais os tipos de câncer de pele e como se diferenciam?

Sandra Durães: O câncer de pele mais comum é o carcinoma basocelular (CBC), também conhecido como epitelioma basocelular. É chamado de câncer, mas, na verdade, o comportamento biológico dele não é tão agressivo, porque não desenvolve metástase, por isso a invasão é local. Ele pode ser muito agressivo localmente e atingir as áreas nobres da pele, como, por exemplo, a face. Dependendo da extensão da lesão, a retirada pode resultar em uma cicatriz inestética, fora que alguns tipos mais agressivos podem destruir as estruturas. Esse tipo de câncer pode se iniciar com uma pequena lesão em alto relevo chamada pápula, que tem uma coloração amarela, praticamente translúcida. Essas lesões tendem a sangrar e têm o crescimento lento. Existe um tipo superficial, que parece com doenças benignas da pele, como a psoríase e dermatite, por exemplo.

O segundo tipo mais frequente é o carcinoma escamoso, que antes era chamado de carcinoma espinocelular. Ele é mais agressivo que o CBC e pode gerar metástase. Geralmente, se apresenta clinicamente de forma diferente, também podendo apresentar úlceras, nódulos e verrugas, mas tem fatores de risco adicionais como infecções pelo vírus HPV e lesões pré-malignas, como queimaduras e cicatrizes. Acomete também as mucosas, como o lábio ou a região genital, onde são mais agressivos.

O terceiro tipo de câncer de pele, mais agressivo, porém menos comum, é o melanoma. No Brasil, temos uma incidência de 180 a 200 mil casos novos dessa doença por ano e o melanoma corresponde a oito mil casos. Esse tipo é o mais agressivo e possui os mesmos fatores de risco dos outros tipos, mas pode surgir de uma lesão precursora, que são os nevos pigmentados, conhecidos popularmente como pintas.

Quais cuidados devem ser considerados em épocas de maior exposição ao sol? Como prevenir o câncer de pele?

Sandra Durães: Na prevenção do câncer de pele, temos a identificação dos fatores de risco. Sabemos também que a exposição à ultravioleta é um grande fator de risco e a pele clara está mais suscetível a esse fator, obviamente, as pessoas com peles mais escuras podem desenvolver câncer de pele, apesar de ser menos frequente. Então, todas as pessoas, independentemente dos fototipos, devem utilizar o filtro solar.

O filtro solar está na moda por uma questão midiática, mas a proteção ao sol é muito mais ampla do que simplesmente utilizar um filtro. Nossos mestres nos ensinaram que o filtro não é um passaporte para o sol, então a maior prevenção inclui não se expor ao sol, mas obviamente, pelas características do nosso país, é praticamente impossível não estar exposto durante o dia. Porém, temos que ser muito críticos em relação a essa cultura de exposição ao sol, achamos muito bonito uma pessoa bronzeada, sem levar em conta que o bronzeamento é uma reação à agressão que a ultravioleta causa na pele. 

Sobre o filtro solar, cabe destacar que ele é extremamente importante para o cotidiano porque nós vivemos expostos ao sol toda hora. Exposição não é só estar na praia ou piscina, se a pessoa está na rua, pode estar exposta ao sol. Então, cotidianamente, é importante se proteger inclusive com a utilização de filtro solar.

Além disso, é importante evitar a exposição solar no período entre 10 horas da manhã até às 15 horas, em caso de atividades físicas ao ar livre, sempre se proteger com barreiras físicas, como guarda-sol, roupa de proteção antivioleta e óculos escuros. Junto a isso, pode ser utilizado o filtro solar do tipo físico, que constitui uma barreira para refletir os raios ultravioleta. Além disso, os filtros químicos podem interagir com a pele e fazer uma esponja para reter a ultravioleta. Então, é muito importante essa combinação dos filtros, que às vezes não são bem aceitos por serem pegajosos e oleosos.  No entanto, atualmente há uma grande variedade de produtos específicos para diversos tipos de pele, adequados para a face, para a pele mais oleosa, para a pele seca com hidratantes e ainda os com ativos anti-envelhecimento.  Não existe um filtro solar perfeito, mas sim produtos adequados para a situação pessoal de cada um. Por fim, é importante sempre se examinar regularmente e procurar um dermatologista caso observe a presença de lesões suspeitas, principalmente quando sangram espontaneamente ou com trauma mínimo. 

Quais são os sinais e sintomas iniciais do câncer de pele?

Sandra Durães: Em muitos casos, o câncer de pele é assintomático, por isso, é comum que a pessoa não sinta nada, mesmo com o surgimento da lesão.

Então, é preciso se atentar à qualquer lesão nova que surja na pele e se preciso, procurar um dermatologista, principalmente em casos de lesões em áreas expostas que sangram, porque a vascularização não consegue dar conta de nutrir todas as células que estão se proliferando muito rápido, por isso algumas delas vão sofrer necrose e isso é visto clinicamente como uma úlcera. Além disso, verrugas maiores na pele e pintas com um crescimento maior do que o normal, devem ser motivos para chamar atenção. 

Para o melanoma, que é mais agressivo, temos a regra chamada ABCDE. O “A” é relacionado à assimetria, então numa lesão arredondada, é preciso imaginar uma linha nos dois sentidos e cada quadrante precisa ter a mesma quantidade de pigmento. O “B” é sobre as bordas da lesão, em que as irregulares são um possível sinal de malignidade, e letra “C” são as cores, então se um machucado apresenta muitas cores, significa um maior fator de risco. O D refere-se ao diâmetro, enquanto a letra “E” trata da evolução das lesões, assim, qualquer mudança de tamanho, forma ou cor deve ser observada. Esse método nos direciona para uma lesão benigna ou maligna, além de um conjunto de fatores que vamos levar em conta para orientar esse diagnóstico.

Agora, existe um auxílio muito importante para o dermatologista nos últimos anos, o dermatoscópio, um aparelho portátil com uma lente de aumento com o qual o dermatologista examina as lesões suspeitas. Alguns padrões das estruturas da pele podem ser identificados e aumentar ou não a suspeita clínica. Este exame tem a acurácia intermediária entre o exame a olho nu e a biópsia.

Como é feito o diagnóstico e quais são os principais exames?

Sandra Durães: O diagnóstico é feito a partir da identificação de lesões, que na maioria das vezes são muito características. Com a identificação, é realizado um exame histopatológico, também conhecido como biópsia, onde se retira um pequeno fragmento da lesão e a análise permite um diagnóstico preciso e correto do câncer de pele. Existem outros exames, por exemplo, se o paciente tem o carcinoma escamoso na face e apresenta um linfonodo (gânglio linfático), pode ser necessária a realização de um ultrassom e uma biópsia deste linfonodo.

No caso de, por exemplo, um paciente com melanoma invasivo, além da necessidade da realização de uma biópsia, será preciso fazer um estadiamento do tumor, para saber se a neoplasia está somente na pele ou acometendo outros órgãos. Então, é preciso fazer a tomografia do tórax, a ressonância magnética do abdômen e outros exames para verificar a extensão da neoplasia, pois isso irá determinar o tipo de tratamento necessário para o paciente.

Existem tratamentos eficazes para o câncer de pele?

Sandra Durães: Existem várias modalidades de tratamento para o câncer de pele, a mais eficaz é a retirada cirúrgica da lesão com margem de segurança, opção mais utilizada. Outro método é a eletrocoagulação, que pode ser usada em casos de tumores pequenos. Além disso, temos a criocirurgia, cauterização pelo nitrogênio líquido, opção utilizada também em lesões pequenas e menos agressivas. Por fim, temos a terapia fotodinâmica, em que se aplica uma solução fotossensibilizante e um determinado tipo de luz que gera uma reação fototóxica e elimina a doença. Apesar de tudo, a opção principal e mais recomendada é a cirurgia.

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Sandra Maria Barbosa Durães é professora do departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestrado em Medicina (Dermatologia) pela UFF e doutorado em Medicina (Dermatologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Por Kayky Resende
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