Criada em outubro de 2016, a Feira Orgânica e Agroecológica da Faculdade de Nutrição acontece toda terça-feira, das 8h às 16h, no campus do Valonguinho, e entrou para a programação não só dos alunos da UFF, mas também da população de Niterói. O que começou como um evento durante a Agenda Acadêmica realizada pela universidade, é hoje um ambiente para venda de produtos orgânicos e, principalmente, para troca de conhecimento entre estudantes e produtores.
A definição mais comum de alimentos orgânicos é a que os descreve como aqueles produzidos sem agrotóxicos e defensivos, livres de qualquer substância química. Entretanto, a cultura orgânica vai além disso, ela valoriza questões sociais relacionadas ao meio ambiente, incentiva o trabalho humano – considerando as etapas da produção – e foca a saúde com o estímulo da boa alimentação.
Segundo a estudante do 4º período de Nutrição e integrante do Grupo de Pesquisa em Nutrição Funcional (GPeNF), Thalita Vicente, é de suma importância para o nutricionista entender a relação harmônica da natureza com o alimento e a saúde do indivíduo. “Na feirinha orgânica podemos conhecer a origem do que comemos e do que iremos prescrever futuramente, sabendo que está livre de veneno e possibilitando que a agricultura familiar cresça cada vez mais”, explica.
Para os produtores, a participação na feira também apresenta muitas vantagens, afinal, além de expor seus produtos, eles recebem orientações técnicas para a melhora dos alimentos oferecidos, como ressalta a Diretora da Faculdade de Nutrição, líder do Núcleo de Pesquisa em Alimentação e Consumo-NUPAC e coordenadora da feira, Alexandra Anastácio. “Nossos alunos os auxiliam, por exemplo, em termos de rotulagem para que eles entendam a importância da informação de nutrientes, orientam também em relação à forma de preparo, alertando para a prática da higiene correta e os riscos na manipulação”.
Além do evento em si, realizado toda terça-feira, a parceria insere os expositores no ambiente universitário. Eles participam de diversas atividades e até mesmo aulas práticas junto aos alunos do curso de Nutrição, sobre a temática dos alimentos orgânicos e da agroecologia, sobre as propriedades dos alimentos com base no saber popular. “Nós realizamos juntos uma oficina de plantio orgânico no canteiro localizado atrás do Reserva Cultural. Os produtores trouxeram conhecimentos que não são comuns na área acadêmica e que fazem a diferença na formação dos alunos”, relata Alexandra.
A interação dos produtores com a Nutrição, também se dá nos eventos anuais que a faculdade realiza. Tanto o Arraiá Saudável como o Natal Saudável contam com a presença da feirinha. “A participação deles nesses momentos é importante não só para difundir conhecimento acerca dos alimentos orgânicos, mas também em função do alcance permitido pela presença de estudantes de diversos cursos, que nem sempre têm contato com nosso projeto”, destaca Alexandra.
Para os alunos, a realização desse trabalho no ambiente universitário é uma forma de aproximar a teoria da prática, conhecendo melhor os alimentos e suas propriedades, como ressalta a graduanda do 4º período de Nutrição, Gabriella Vidal. “Na feira, podemos ver o empenho e dedicação dos pequenos produtores para ofertar uma alimentação melhor e de qualidade, livre de agrotóxicos e isso nos incentiva a comer melhor e de forma saudável, e a buscar sempre alimentos que façam bem para o nosso organismo”, afirma.
O impacto da feira agroecológica tem ido além dos muros da universidade. Além de incentivar a alimentação orgânica, o projeto tem assumido seu compromisso junto à população de Niterói. Localizada no campus do Valonguinho, no centro de Niterói, a iniciativa recebe como clientes os moradores do entorno e também abre espaço para escolas da região. “Nós temos visitas de alunos do ensino médio da cidade, que vêm conhecer o projeto e participar de exposições que explicam questões como a agroecologia, o consumo orgânico e a importância dos pequenos produtores”, esclarece a coordenadora.
A influência da iniciativa pode ser percebida não só no consumo consciente, mas também na atitude dos estudantes, que têm assumido um papel de multiplicadores desses conhecimentos. Alexandra Anastácio ressalta: “o plantio dos próprios temperos em casa com hortas urbanas, o fomento à boa alimentação como promoção de saúde e até o aproveitamento integral dos alimentos, por exemplo, tem sido recorrente nas pesquisas desenvolvidas pelos alunos e também em suas rotinas pessoais”.
Em um trabalho de análise sensorial realizado no térreo da Faculdade de Nutrição, a graduanda Thalita buscou demonstrar o benefício da prática de aproveitamento integral. “Quando jogamos a casca do alimento fora, estamos também deixando de consumir diversos nutrientes e nos privando de experimentar receitas maravilhosas. Podemos criar receitas sustentáveis e que ficam deliciosas, como um bolo de aproveitamento integral da banana, por exemplo, em que a massa é constituída também pela casca e foi totalmente aceito nesse evento”, relata.
Em função do sucesso do projeto, em breve na Faculdade de Nutrição será inaugurado o Núcleo de Estudos em Agroecologia, que tem o objetivo de desenvolver novas pesquisas com alimentos orgânicos. O espaço será destinado aos estudantes e professores que realizam análises microbiológicas e de composição físico-químicas, por exemplo. Além disso, segundo a coordenadora, também está prevista a ampliação do laboratório de alimentos, contribuindo ainda mais para a expansão desse campo.