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UFF é referência em pesquisa sobre tumor que acomete mulheres durante a gestação

Universidade integra o terceiro principal núcleo de estudos do mundo sobre doença trofoblástica gestacional

Muitas preocupações cercam as mulheres que se preparam para engravidar; entre elas, as possíveis doenças ou síndromes congênitas que são transmitidas aos filhos durante a gestação ou que emergem durante esse período. As rotinas de cuidados preventivos que as futuras mães desenvolvem, no entanto, poucas vezes incluem um olhar para a chamada doença trofoblástica gestacional, ainda pouco conhecida e estudada no Brasil e no mundo.

Na contramão dessa tendência, a Universidade Federal Fluminense tem dedicado muitos esforços para aprofundar o conhecimento sobre a patologia nas últimas décadas com o intuito de torná-la mais conhecida e seu diagnóstico, mais precoce. Prova disso é que a UFF integra o terceiro mais importante núcleo de estudos sobre essa doença do mundo: o Centro de referência em doença trofoblástica gestacional do Rio de Janeiro. O instituto congrega as experiências dos serviços especializados do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) e da Maternidade Escola (UFRJ), ambos sob a coordenação do professor de obstetrícia da UFF Antonio Braga, que é Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ.

De acordo com o pesquisador, a doença trofoblástica gestacional poderia ser definida como um tumor que se desenvolve durante a gravidez, em que a gestação, além de não evoluir para o nascimento de um bebê saudável, pode progredir para o câncer da placenta. Segundo informa Antonio, “sua ocorrência parece ser entre cinco e dez vezes maior entre as mulheres brasileiras do que entre as norte-americanas e europeias, respectivamente. Contudo, e a despeito dessa maior prevalência no Brasil, trata-se de uma enfermidade ainda pouco conhecida, mesmo entre profissionais da saúde, fazendo com que as gestantes acometidas por ela sejam ainda diagnosticadas tardiamente”.

Recebemos pacientes de toda a região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, muitas em situações vulneráveis e que precisam de ajuda para manter o acompanhamento de forma apropriada. Nossas taxas de adesão são enormes, o que é fruto do trabalho sistematizado que temos realizado, envolvendo a paciente e sua família, fortalecendo sua rede de apoio e o atendimento humanizado, que auxilia no processo de cura”, professor de obstetrícia da UFF Antonio Braga e coordenador do Centro de referência em doença trofoblástica gestacional do Rio de Janeiro.

O professor explica que a linha de cuidado desenvolvida no HUAP para as pacientes com doença trofoblástica gestacional recebe mulheres referenciadas pela Central Estadual de Regulação. O ambulatório funciona às segundas-feiras, pela manhã, e de forma integrada à Maternidade do HUAP, onde as cirurgias são realizadas. O tratamento consiste no monitoramento do marcador tumoral da doença, representado pela gonadotrofina coriônica humana, uma proteína presente no sangue e que permite antever a progressão para o câncer de placenta.

Os maiores desafios desse trabalho, de acordo com Antonio, consistem em promover o atendimento precoce dessas gestantes, e ao mesmo tempo garantir a adesão delas a um acompanhamento intensivo, em especial nos primeiros meses de manifestação da patologia. “Recebemos pacientes de toda a região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, muitas em situações vulneráveis e que precisam de ajuda para manter o acompanhamento de forma apropriada. Nossas taxas de adesão são enormes, o que é fruto do trabalho sistematizado que temos realizado, envolvendo a paciente e sua família, fortalecendo sua rede de apoio e o atendimento humanizado, que auxilia no processo de cura”, enfatiza.

O pesquisador destaca ainda que esse serviço conta com a participação de alunos de iniciação científica, internos, médicos residentes, mestrandos, doutorando e pós-doutorandos, que estudam a enfermidade a partir dos casos atendidos no HUAP. Partindo dos resultados obtidos, são desenvolvidas pesquisas que permitem entender melhor o comportamento da doença e as estratégias terapêuticas de maior sucesso para enfrentá-la. Um exemplo dos estudos desenvolvidos no momento em torno do tema é a pesquisa de mestrado em Ciências Médicas da estudante Juliana Gomes, com orientação de Antonio Braga. O trabalho busca apresentar os resultados do tratamento quimioterápico mais utilizado no mundo para as pacientes que evoluem para o câncer da placenta com um medicamento antimetabólico chamado Methotrexate.

O trabalho aborda a administração desse quimioterápico de forma alternada com uma droga chamada ácido folínico, cujo papel é atenuar os efeitos tóxicos do medicamento. Todavia, sua dose é fracionada e muito difícil de ser administrada oralmente. “Diante desse cenário, estamos apresentando nossa experiência na aplicação de dose fixa via oral de ácido folínico, que não modifica as elevadas taxas de remissão obtidas pela quimioterapia, ou o padrão de toxicidade do tratamento. Pelo contrário, mantém ótimo controle de toxicidade, praticidade na administração e segurança do tratamento – o que é algo absolutamente inovador”, comemora.

Outro exemplo de pesquisa em andamento é a desenvolvida pela doutoranda Vanessa Campos, também com a orientação de Antonio. O estudo visa delinear o impacto da pandemia de Covid-19 no Brasil no diagnóstico e tratamento de mulheres com doença trofoblástica gestacional. Investiga-se se o atraso na realização dos exames diagnósticos assim como as dificuldades de acesso aos serviços de saúde levaram a uma demora na chegada das pacientes aos centros de referência, bem como a ocorrência de complicações clínicas associadas ao diagnóstico tardio, dentre as quais hemorragia, hipertensão e hiperemese. “Esse trabalho servirá de modelo do impacto da interrupção dos serviços de saúde no tratamento de doenças, como ocorre em situações de calamidade social, guerras e epidemias”, conclui o orientador.

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