Muitos estudantes possuem o sonho de realizar um intercâmbio. Mesmo assim, escolher um lugar de destino que atenda às suas expectativas nem sempre é fácil. Se aventurar em um outro país, de cultura, língua e modos de pensar diferentes é um desafio que muitos esperam enfrentar, para vivenciar novas experiências. Andar pelos corredores da UFF e escutar o desenrolar de uma conversa em um outro idioma tem sido recorrente, graças aos projetos de internacionalização disponibilizados pela universidade. Muitos intercambistas ao redor do mundo têm optado pela UFF, que recebe em média 120 alunos de graduação estrangeiros por ano.
A internacionalização foi consolidada em 1965, por meio de uma ação oficial com o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), e tem desempenhado um papel muito importante na universidade. A Superintendente de Relações Internacionais, Livia Reis, destaca como esse processo agrega tanto ao aluno estrangeiro quanto à comunidade acadêmica da UFF. “São inúmeros os relatos de docentes e discentes que retratam seus contatos com alunos de Mobilidade Internacional de forma positiva. Muitas vezes, eles fazem observações e constatações durante as aulas e atividades que fomentam novos e instigantes debates”, explica.
Com foco na qualidade da estadia dos alunos no Brasil, a Superintendência procura fornecer toda a assistência necessária para eles. Uma cerimônia de acolhimento, por exemplo, é realizada para o estudante de intercâmbio se ambientar à universidade. Assim, a SRI também se disponibiliza a prestar qualquer informação necessária para o futuro aluno. Além disso, há o Programa de Apadrinhamento do Intercambista, cursos de português para estrangeiros e listagens com sugestões de moradia em Niterói, com base em recomendações dos ex-alunos de mobilidade. Somado a isso, outras reuniões podem ser agendadas ao longo do semestre, a fim de sanar dúvidas e prestar auxílio aos estrangeiros.
Programa de Apadrinhamento do Intercambista (PAI)
Disponibilizado pela Superintendência, o programa tem o objetivo de promover uma integração maior entre o aluno de Mobilidade e os demais, possibilitando que os discentes adotem um estudante estrangeiro de maneira voluntária. Dessa forma, os padrinhos acompanham os intercambistas como forma de aprimorar a sua jornada, não só no meio acadêmico, como também em questões do dia a dia. Com isso, a experiência é satisfatória tanto para ele quanto para o seu afilhado, como destaca o coordenador da mobilidade “in”, Vitor Ierusalimschy: “o contato com o estrangeiro que, muitas vezes, traz consigo uma forma diferente de interpretar o mundo, desperta em nós uma reavaliação de nossa perspectiva, sendo altamente proveitosa do ponto de vista acadêmico, mas também social”.
Para quem não tem a possibilidade de realizar um intercâmbio ou de estudar um outro idioma , “adotar” um intercambista proporciona um momento de troca e convivência com outros costumes em seu próprio ambiente. O estudante de Engenharia, Rodrigo Cavalcanti, descobriu o projeto em 2017 e conta a sua experiência no programa. “Primeiro é uma oportunidade de ter contato com pessoas de países, culturas e pensamentos diferentes. Você acaba viajando para outro país sem sair do seu, além de pôr em prática o conhecimento em diferentes línguas. E, também, tem um gostinho do que pode ser um programa de intercâmbio.”
A relação desenvolvida pelo Programa de Apadrinhamento cria laços bem próximos entre os padrinhos e os intercambistas. Muitos acabam virando amigos, pois a convivência se estende para além dos campos da universidade e se dá de forma bem intensa. A mexicana e estudante de Marketing, Delta Cabrera Flores, menciona que o PAI influenciou na sua escolha pela UFF e confessa como o seu padrinho, Israel Gomes, foi essencial para sua adaptação no Brasil. “Ele falava comigo quando eu ainda estava no México, explicando sobre tudo o que eu tinha que fazer, me dava dicas. Ele foi muito legal e se tornou meu melhor amigo brasileiro. Sei que se precisar dele, estará ali, e vice-versa”, comenta.
Disciplina de Português para Estrangeiros
A disciplina, ministrada pelas professoras Adriana Rebello e Cirlene Sanson, promove aulas que exploram não só a estrutura da língua portuguesa, mas também seu uso, levando em consideração aspectos da nossa cultura que influenciam o comportamento linguístico do brasileiro. Além do conteúdo, a diversidade de alunos nas aulas contribui, principalmente, para a adaptação do intercambista. A argentina e estudante de Letras, Dafne Petanas, conta sobre a relevância das aulas nesse processo. “Me ajudou não só com o uso da língua em contextos formais e informais, mas também me permitiu compartilhar um tempo com colegas do mundo inteiro e me aproximar ainda mais deles”.
Cursos nessa área têm sido fundamentais para o processo de internalização da UFF e, principalmente, para o desenvolvimento acadêmico de estudantes da universidade, como destaca a professora Adriana. “Ocorre um efeito retroativo na formação de nossos alunos da área de Letras, ou seja, nossa universidade desenvolve um trabalho de pesquisa acadêmica em português para estrangeiros, na pós-graduação stricto sensu e lato sensu e, a partir de 2019, oferecerá o Curso de Especialização lato sensu em Português para Estrangeiros”.
A via de mão dupla do conhecimento
Através do PEC-G, em 2017, a UFF recebeu o seu primeiro estudante cego: o argentino e graduando de direito da unidade de Niterói, Octávio Careno. O aluno, envolvido em diversos projetos da universidade, participa do Coletivo de Alunos e Alunas com Deficiência (CAAD), e retrata um pouco do movimento. “Trata-se de um coletivo dentro da universidade que tem como fundamento a organização dos alunos com deficiência para poder garantir que as políticas de inclusão realmente se efetivem. Também confere um espaço para esses estudantes se reconhecerem e se organizarem”. Ele cita que um dos objetivos do grupo é dar suporte para que o Sensibiliza, Divisão de Acessibilidade e Inclusão, continue atuando no auxílio de alunos com deficiência, garantindo que todos tenham direito a educação.
Outro estudante que, além de aprender, contribuiu para o universo acadêmico da UFF é Avelino Bobo, natural do Timor Leste, que cursa turismo desde 2015. Convidado para palestrar sobre “A Realidade Linguística do Timor Leste’’ no evento Café com Linguística, ele retratou um pouco do seu país e das línguas faladas. “Eu e um amigo, Jonas Guterres, fizemos uma apresentação sobre o Timor Leste, a sua história durante a colonização portuguesa, cultura, e línguas, principalmente a ‘Tetum”. O timorense acrescenta que eles aprendem a falar o português na escola, mas devido a uma grande diversidade de dialetos existentes em sua terra natal, se comunicar ainda é difícil. Então quando viajam, dão preferência por falar em Tetum, língua com muitas palavras em português.
Em relação aos aprendizados que adquiriu no Brasil, Avelino, que também veio para UFF através da PEC-G, destaca: “adquiri muitas experiências tanto na universidade, na maneira de ensinar dos professores – que é diferente em relação à do meu país – quanto em níveis de inteligência emocional. Não só no que diz respeito a entender meu próprio nível, mas identificar e saber lidar com os dos outros, apresentando empatia e desenvolvendo habilidades sociais durante esse processo”.