A instalação do porto e terminal petroquímico em Ponta Negra, no Estado do Rio de Janeiro, traz preocupações a respeito de possíveis desastres ambientais à região de Maricá. A obra, que no momento encontra-se embargada, foi objeto de estudo do mestrando em Defesa e Segurança Civil da UFF, José Maria de Castro Júnior e a doutoranda Marina Aires, do Programa de Pós-Graduação em Geografia, que desenvolvem suas pesquisas com o objetivo de avaliar as consequências negativas da construção para o meio ambiente e para a população.
A licença prévia para a construção do porto foi concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em 2015. A comissão do instituto aprovou a construção por unanimidade, o que deu permissão para a empresa DTA Engenharia dar prosseguimento ao projeto. Moradores e ambientalistas dos municípios de Maricá e Saquarema, no entanto, sempre apresentaram resistência à realização da obra.
Através do uso da modelagem computacional, José utiliza o software Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental (SisBaHiA) para analisar dois cenários possíveis do comportamento da pluma de óleo no mar. Um deles seria com condições de tempo normais, já o outro apresentaria a região exposta a uma frente fria, onde os ventos vindos do sudoeste deslocariam o petróleo até a costa.
“O resultado dos cenários analisados indica que os ecossistemas presentes na região não resistiriam ao contato com o óleo, e sofreriam graves consequências com a chegada dos poluentes”, explica José Maria, que concluiu sua dissertação neste semestre. Além disso, é mostrado que os danos do petróleo se estenderiam também à economia local, visto que existem indústrias que se aproveitam dos recursos marinhos, em especial, a pesqueira.
Esse estudo, segundo o professor Jorge Luiz Fernandes de Oliveira, orientador dos dois estudantes, também engloba a questão dos poluentes do petróleo que seriam evaporados. “O sistema usado na pesquisa simula as direções que estes gases podem seguir e quais seriam as áreas populacionais atingidas”, explica.
O especialista enfatiza que um vazamento no terminal de Ponta Negra geraria séria poluição marinha da região. Desse modo, a pesquisa auxilia no controle dos danos causados, visto que analisa o comportamento do óleo no mar em caso de um eventual acidente.
“O conhecimento produzido ao longo da pesquisa poderá auxiliar novas investigações acadêmicas relacionadas à problemática ambiental em grandes empreendimentos, bem como seus impactos sociais e a possíveis mudanças na legislação brasileira associadas à gestão de riscos”, Marina Aires.
Já a doutoranda Marina, cuja pesquisa ainda está em andamento, explica que seriam vários os impactos ambientais na região em caso de um vazamento. “As principais consequências estariam relacionadas ao desequilíbrio da fauna e flora, pois haveria a contaminação do mar e, consequentemente, mortandade de peixes, contaminação dos crustáceos e outras espécies e até a extinção de algumas delas. Os pescadores da Praia de Jaconé e adjacências também seriam afetados, pois perderiam sua principal fonte de renda. Além disso, o potencial turístico de Maricá poderia ser prejudicado e consequentemente a economia local também; sem contar que próximo à Praia de Jaconé existem formações rochosas (“beachrocks” ou arenitos de praia) que foram registradas por Charles Darwin, em meados do século XIX, e que poderiam se deteriorar, extinguindo o patrimônio científico e cultural da região”.
E, finalmente, a aluna alerta também para a questão da saúde dos moradores da região, que também pode ficar comprometida por conta dos processos de decomposição dos contaminantes. “A poluição marinha afetaria a população local, podendo desencadear doenças respiratórias, irritação cutânea e caso a população consuma alimentos e/ou beba água contaminada, poderá desenvolver problemas digestivo”.
O professor Jorge Luiz acrescenta que haverá uma estocagem muito grande de combustível e óleo na região de Ponta Negra com um projeto de terminal desse porte. “Um vazamento no local geraria um sério problema – poluição marinha e nas praias. Isso é péssimo para o meio ambiente. E quanto mais rápido avisamos, mostramos para onde o óleo vai se movimentar, os órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização, responsáveis pela contenção, poderão agir em caso de vazamento”, ressalta.
Os pesquisadores afirmam que participar de um projeto dessa natureza, desenvolvido em uma universidade pública que busca contribuir para o bem-estar da sociedade é muito gratificante. “O conhecimento produzido ao longo da pesquisa poderá auxiliar novas investigações acadêmicas relacionadas à problemática ambiental em grandes empreendimentos, bem como seus impactos sociais e a possíveis mudanças na legislação brasileira associadas à gestão de riscos”, conclui Marina.