Quando se trata de problemas renais é comum pensar de imediato nos conhecidos cálculos e infecções, entretanto, disfunções relacionadas aos rins podem ser graves e gerar até falência do órgão, como é o caso da doença renal crônica (DRC). Caracterizada pela perda progressiva e irreversível das funções dos rins, a doença tem como principais causas no Brasil a hipertensão e a diabetes, seguidas de obesidade e glomerulopatia. Um dado agravante é que devido à demora em apresentar sintomas, cerca de 70% dos pacientes descobrem tardiamente o desenvolvimento da enfermidade, aumentando assim os casos com necessidade de diálise e transplantes.
A incidência de casos é tão preocupante que a DRC é considerada hoje em dia uma questão de saúde pública, principalmente pela falta de conhecimento por parte da população. Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Nefrologia realiza anualmente uma campanha pelo Dia Mundial do Rim – comemorado em 2017 no dia 9 de março –, com o intuito de conscientizar a sociedade a respeito dos riscos e das formas de prevenção.
Buscando oferecer tratamentos nutricionais a doentes renais crônicos e desenvolver pesquisas sobre a disfunção, a UFF conta com um ambulatório de nutrição renal coordenado pela professora Denise Mafra. Os pacientes encaminhados ao ambulatório passam por uma reeducação alimentar baseada em dietas hipoproteicas e são acompanhados para que a função renal se estabilize. O projeto conta com a participação de estudantes de Nutrição, da graduação ao pós-doutorado, o que permite resultados práticos, estudos aprofundados e, consequentemente, avanços no tratamento.
Uma vida saudável com dieta equilibrada, prática de exercícios e tratamento adequado de doenças como hipertensão e diabetes, pode prevenir o desenvolvimento da doença renal crônica”, enfatiza Denise Mafra.
De acordo com a coordenadora do projeto, informações a respeito da doença são um grande passo para a redução dos casos. Ainda que seja uma enfermidade silenciosa, existem formas de prevenir e acompanhar o funcionamento renal por meio dos exames de rotina. “Assim como o colesterol e a glicose são verificados, a creatinina é um marcador importante para a função dos rins, principalmente nos pacientes diabéticos e hipertensos, e deve ser acompanhada. Além disso, uma vida saudável com dieta equilibrada, prática de exercícios e tratamento adequado de doenças como hipertensão e diabetes, pode prevenir o desenvolvimento da disfunção renal crônica”, enfatiza a professora.
A seguir, Denise Mafra, explica um pouco mais sobre o projeto:
Como surgiu o ambulatório?
O ambulatório surgiu em 2009, motivado pelas pessoas que perguntavam se eu atendia pacientes com doença renal crônica. Na época eu tinha uma aluna da iniciação científica e em 2010 iniciamos o projeto de extensão do Ambulatório de Nutrição Renal. Com o tempo, a proposta foi tomando uma grande proporção devido à divulgação nos postos de saúde, com os nefrologistas do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap) e da rede básica de saúde, que passaram a encaminhar pacientes para cá. Hoje em dia nós temos mais de 350 pacientes sendo atendidos por mim e pelas mestrandas, doutorandas e pós-doutorandas que trabalham comigo.
Como é feito o tratamento no ambulatório?
Quando o paciente chega ao ambulatório, pedimos que ele já traga o exame bioquímico apresentando os níveis de creatinina, porque aqui é feito um cálculo através de um aplicativo que mede a função renal. O normal é que essa função esteja em média 100 ml/min., mas nos casos de doença renal crônica os níveis vão diminuindo e quando marcam 10 ml/min., esse paciente precisa ser encaminhado para a diálise. Dessa forma, quando ele chega com os exames, fazemos esse cálculo, seguido de uma avaliação antropométrica para verificar as medidas e um questionário alimentar para saber quais os hábitos do paciente. A partir daí o tratamento se inicia com base em uma dieta hipoproteica, ou seja, uma dieta com quantidades diminuídas de proteína. Para que essa dieta seja seguida corretamente e gere bons resultados, realizamos aqui uma educação nutricional com o paciente, orientando quanto ao sal e quanto às quantidades e os alimentos ingeridos, por exemplo.
Quais pesquisas são desenvolvidas no ambulatório atualmente?
Todas as pesquisas realizadas aqui contam com a participação dos pacientes. Nós aprovamos no comitê de ética e os que aceitam contribuir assinam um termo de consentimento. Dessa forma, nós temos duas pesquisas de doutorado, uma que avalia se essa dieta hipoproteica que é prescrita aqui diminui os níveis de inflamação e outra a respeito da modulação da microbiota intestinal por essa dieta, além de uma pesquisa de mestrado avaliando os efeitos da dieta hipoproteica em alguns marcadores cardiovasculares. Nesse sentido, já realizamos oficina de culinária com a participação dos pacientes de forma a apresentar a dieta e motivar uma maior adesão e publicamos artigos mostrando que essa microbiota intestinal se altera em pacientes com doença renal crônica, levantando a hipótese de que a ingestão de grande quantidade de proteína pode gerar toxinas urêmicas que não são adequadamente administradas pelo rim do paciente renal crônico.
Os alunos do curso de Nutrição participam ativamente do projeto?
Sim, o ambulatório é muito divulgado na minha disciplina. Além das mestrandas, doutorandas e pós-doutorandas já citadas, eu conto com alunos do curso de Nutrição atuando no estágio interno e no desenvolvimento acadêmico. Esses alunos de graduação acompanham os atendimentos e realizam a avaliação nutricional dos pacientes. Assim, o projeto passa pela pesquisa, pelo ensino e pela extensão, criando uma ligação interessante e necessária entre as mais diversas áreas da Nutrição.
SERVIÇO:
Telefone: 2629-9862
E-mail: nutricaorenal@gmail.com
Endereço: Faculdade de Nutrição – UFF – Rua Mário Santos Braga, N°30, 4° andar, Valonguinho – Niterói RJ.
Horários de atendimento: Terça das 8h às 12h e das 14h às 17h / Quinta das 14h às 17h / Sexta das 8h às 12h.