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Trabalho escravo é debatido na Agenda Acadêmica

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Passados 155 anos da abolição da escravidão no Brasil, o número de trabalhadores escravos ainda é muito grande no país: 25 mil por ano. Este tipo de trabalho concentra-se, principalmente, no Pará, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Estas foram algumas das observações feitas no debate “O trabalho escravo contemporâneo na geografia da violência rural da Amazônia”, realizado no Campus do Gragoatá, no dia 8 de novembro.
“O agronegócio é um dos grandes culpados por estes índices serem tão altos em tais estados”, afirma o professor Carlos Walter Porto Gonçalves, do Departamento de Geografia. “Ele acumula terra nas mãos de um só proprietário, amplia a tecnologia usada, mas explora a mão-de-obra humana. Produz muitos grãos, mas também muitos famintos”.
Os números da violência também foram estudados por Walter, e as pesquisas revelaram que Mato Grosso ocupa o primeiro lugar no ranking dos estados mais violentos, seguido por Rondônia e Pará.
Trabalhando há mais de 15 anos no Tocantins, frei Xavier Plassat, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), diz que só em 1972 a escravidão na Amazônia foi revelada e apenas em 1997 a CPT se organizou contra o trabalho escravo. “Existe muitas dificuldades em revelar cativeiros e saber o que acontece com os escravizados, o pouco que se sabe é relatado pelas vítimas que conseguem fugir. Apesar disso, o tema cresceu mais de 200% na imprensa nos últimos três anos”, afirmou frei Xavier.
A escravidão moderna, do mundo globalizado, apresenta algumas diferenças da anterior: “ela não escolhe vítimas”, diz o frei. “Mulheres, homens, crianças, adolescentes, indígenas, negros, brancos. O critério não é mais a raça, mas sim a vulnerabilidade, a facilidade”. Além disso, não são as correntes que os mantêm presos nas fazendas, e sim o desconhecimento do território e as dívidas fabricadas pelos “gatos”, denominação dada ao elemento central deste tipo de trabalho, que é quem os ilude e age em nome do contratador real que não quer aparecer.
Com apresentações de slides, frei Xavier mostrou muitos trabalhadores que foram libertados ou conseguiram fugir, e as decepções dos mesmos.
“As condições de trabalho são degradantes, eles dividem espaço e água com animais, não existe saneamento básico, a comida é precária, não há pagamento e nem dinheiro para fugir”, afirma. Mesmo com as descobertas de cativeiros, a impunidade é constante. De 1995 a 2004 apenas dois fazendeiros foram condenados a pagar cestas básicas.
Maria Antonieta da Costa Vieira, da Prefeitura de São Paulo, acredita que um dos fatores que facilitam a escravidão é a ausência do Estado nas regiões citadas. Contudo, para ela, “é importante vê-los como protagonistas deste processo e não apenas como vítimas, levando em consideração que muitos não querem ser legalizados, já que a oportunidade de conseguir um emprego nestas condições é muito difícil”.
Para os palestrantes, a organização dos trabalhadores, mobilização da sociedade, denúncias, mais informação e cobrança do poder público e da atuação do mesmo são fatores primordiais para que a luta contra o trabalho escravo seja eficiente.

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