O primeiro dia da Conferência Internacional Pensamento e Movimentos Sociais na América Latina e Caribe, na UFF, começou com a construção de uma nova América Latina. A atividade simbólica materializou ludicamente uma intenção. A prática é comum no início das atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e trouxe um início de reflexão aos mil participantes do evento – 300 do MST e 200 da Via Campesina, além de 500 membros da comunidade acadêmica e integrantes de outros movimentos sociais.
Um dos coordenadores acadêmicos do evento, professor Carlos Walter Porto Gonçalves, do Instituto de Geociências, falou da construção de uma nova universidade. Segundo ele, o caráter político acadêmico do evento aponta justamente para “esse caminho de sonho, onde temos a união do campo e da cidade, da universidade e dos movimentos sociais”.
Um dos responsáveis pela realização do evento na universidade, o pró-reitor de Extensão, professor Luiz Antônio Botelho Andrade, lembrou que a conferência faz parte do programa Interlatinidades, que vem envolvendo a UFF nos mais diferentes ângulos de discussão da nossa América. Agradecendo a todos que trabalharam pelo evento, e o empenho extra institucional, evocou Paulo Freire, outro alvo do Interlatinidades. Dirigindo a palavra aos educadores, Andrade assinalou que Freire afirmava que somos biológica e historicamente inacabados e, por isso, seres de esperança, e deixou a mensagem freireana de que aqueles que têm esperança em um mundo melhor devem educar e assim libertar.
O objetivo comum da universidade e dos movimentos sociais foi exaltado pelo vicer-reitor, professor Antônio Peçanha, que afirmou ser a busca pela cidadania um ponto de congruência, onde “todos crescem na missão, ou luta” – a universidade, para a formação plena do cidadão, os movimentos sociais para que a cidadania seja alcançada e preservada.
“Vejo realizar um velho sonho da união com a academia, para pensarmos a sério os movimentos sociais”, disse João Pedro Stédile, um dos líderes do MST, que saudou a UFF pela coragem de receber o movimento, especialmente em meio à crise ideológica e de compromisso com a sociedade pela qual passam as universidades.
Também falaram, na mesa de abertura, membros do comando de greve representando a Associação de Docentes da UFF (Aduff), o Sindicato dos Trabalhadores da UFF (Sintuff) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE). O comando tem apoiado o evento por crer que a natureza da conferência caminha na mesma direção do movimento grevista, que vem defendendo a universidade pública, gratuita e de qualidade e os direitos dos trabalhadores.
A abertura do evento também contou com uma “conversa” entre Atílio Borón, membro do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, Ana Esther Ceceña, editora da Revista Chiapas e pesquisadora da Universidad Nacional Autónoma de México e Carlos Walter, da UFF, sobre o pensamento e os movimentos sociais na América Latina e no Caribe. Os palestrantes apontaram para a permanência de um forte imperialismo e para as marcas de pobreza que permanecem nos países latino-americanos, pela dominação que recai sobre nós desde o desembarque europeu. Lembraram ainda das lutas de resistência à dominação, que duram pelo menos 513 anos e têm fortes representações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, no Brasil, e os Zapatistas do México, entre muitos outros.
Destaques
Além dos cursos de Introdução ao Pensamento Revolucionário Latino-americano, que acontece todas as manhãs a partir das 8h, são destaque as mesas redondas que compõe o evento a partir das 14h.
No dia 14, o tema será “A América Latina no contexto do capitalismo em sua fase imperialista atual”, com os conferencistas Ana Ester Ceceña, do México, Atílio Borón, da Argentina e Edgardo Lander, da Venezuela. Comentarão, a professora Virgínia Fontes, do Brasil, e Pablo Dávalos, do Equador.
“As estratégias de poder”, vistas a partir da perspectiva hegemônica na América Latina até os dias de hoje, é o tema do dia 15, que terá os seguintes conferencistas: Jaima Caycedo, da Colômbia, Carlos Figueroa Ibarra, da Guatemala e João Pedro Stédile, do Brasil. Os comentadores serão Jason Borba, do Brasil, e Álvaro Garcia Linera, da Bolívia.