Reportagem: Bernardo Tonasse
Cientistas fazem ciência, ambientalistas lutam pelo meio ambiente. Segundo o professor Gilberto de Almeida, do Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal Fluminense, essa distinção deveria terminar, pois o planeta está sendo destruído por uma cultura de negligência ambiental. Ele é presidente do Instituto Ymer, uma ONG criada em março deste ano com o intuito de integrar pesquisa científica, lazer, turismo e educação à conservação da natureza.
De acordo com Almeida, estudar a natureza sem usar os conhecimentos adquiridos para conservá-la é ter uma visão limitada do potencial da ciência. “O meio ambiente está em alerta vermelho, e nós, pesquisadores, não podemos cruzar os braços”, afirma. Adepto da biologia da conservação, um ramo da “ciência da vida” que visa justamente a aplicar os saberes desta à proteção do meio ambiente, ele diz que apenas recentemente os cientistas começaram a descruzar os braços. “Infelizmente, a biologia da conservação ainda é pouco difundida no Brasil e no mundo”, lamenta.
O biólogo da UFF já tem os braços descruzados. Desde setembro do ano passado, desenvolve pesquisa sobre a borboleta-da-praia (Parides ascanius), uma espécie que ocorre apenas no Estado do Rio de Janeiro. Há anos ameaçada de extinção, ela enfrenta um sério problema: a jarrinha-da-praia, única planta da qual a sua lagarta se alimenta, também está desaparecendo. Uma das atividades da pesquisa do professor consiste no plantio de mudas do vegetal, aliado a uma série de estudos sobre a borboleta, seus predadores e habitat. Para Almeida, medidas como essa ganham em eficiência devido à objetividade e segurança que o conhecimento científico dá ao pesquisador/ambientalista.
Uma questão cultural
Contudo, proteger a Parides ascanius não é o suficiente para o professor da UFF, que resolveu ir além das borboletas e estender o conceito da sua pesquisa. “O problema ambiental é uma questão cultural. O homem tem uma visão de mundo na qual a ciência e a natureza não são valorizadas, e isso tem de mudar”, frisa. Em vista do problema, fundou, junto com alguns alunos, a ONG Instituto Ymer, em março de 2004. A sua missão é integrar educação ambiental, turismo, lazer, ciência e proteção do meio ambiente, contribuindo, assim, para a mudança cultural necessária.
A principal proposta da ONG – que ainda não tem patrocínio – é a criação de centros culturais, que possibilitariam a integração de todas essas áreas. Nesses centros, além da promoção de cursos e debates, seriam criados “borboletários” para visitação do público. Assim, as pessoas teriam uma opção de lazer e aprenderiam não só sobre as borboletas, mas também sobre a natureza e a necessidade de conservá-la. “As borboletas são apenas a nossa bandeira; o objetivo é proteger toda a natureza”, esclarece o professor Almeida, que apresentou o projeto no 4º Encontro Verde das Américas, em setembro, no Rio.