Longas extensões de grama tapete, árvores espalhadas e polos de sombra com diferentes formatos de folhas e flores amenizam o calor no Campus do Gragoatá, que fica às margens da Baía de Guanabara. Esse cenário, presente na unidade da Universidade Federal Fluminense (UFF), não acrescenta à cidade de Niterói apenas um belo cartão-postal, mas um ambiente saudável que promove a qualidade de vida, resultado de diversas ações do programa Vida no Campus, que atua preservando a área verde do Gragoatá há 25 anos.
O projeto de extensão universitária executa ações de sensibilização ambiental no campus, como o plantio de árvores e plantas, ecotrilhas, projetos de jardinagem e eventos de educação ambiental. Ao todo, foram cerca de 130 mudas de árvores plantadas no campus, um acervo a céu aberto que marca a história de todos esses anos em que o “Vida”, como é carinhosamente chamado, atua no Gragoatá. Para a coordenadora Ana Paula Lopes, docente do Instituto de Psicologia da UFF e envolvida com o programa há cinco anos, “as atividades do Vida estimulam o convívio e a sensibilidade, assim como a destreza dos movimentos, a percepção do tempo, das estações, cores, formas e texturas. Também melhoram a orientação nos espaços ao ar livre, a circulação na cidade e ampliam perspectivas de vida. Do mesmo modo, entendemos que as atividades de cuidado com as plantas, jardins e áreas verdes potencializam a relação de atenção com os outros e, principalmente, consigo mesmo.”
O tempo acumulado de atividades extensionistas ininterruptas e as premiações recebidas reforçam a importância do programa no cotidiano dos que frequentam o Gragoatá. Sua forte presença em inúmeros eventos e congressos científicos permitiu que recebesse o Prêmio Josué de Castro de Extensão pela quarta vez no ano de 2018, referente ao desempenho e à qualificação alcançados a partir dos projetos apresentados na Semana de Extensão Universitária da UFF (SEMEXT).
Programa Vida no Campus: Meio ambiente e bem-estar mental
O Programa Vida no Campus possui como principais objetivos a promoção não apenas do bem-estar físico, mas também da saúde mental. Através de estudos no ramo da psicologia sobre o comportamento humano e sua interrelação com o meio ambiente, o Vida realiza ações semanais de jardinagem terapêutica com pessoas que possuem transtornos de saúde mental, encaminhadas pelo CAPS/Niterói, serviço municipal de atenção diária destinado a pessoas em sofrimento mental, e pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), no qual os alunos do curso de Psicologia da UFF, através de ações intra e extra acadêmicas, oferecem auxílio emocional e social à população.
Além disso, há também as oficinas terapêuticas de arte ecológica, que auxiliam na restauração psicológica. Para a coordenadora do programa, “a educação ambiental e as ações de restauração ecológica e mental são processos subjetivos e com impacto de médio e longo prazo, nem sempre mensuráveis quantitativamente. Apesar disso, percebo muitas transformações e aprendizado mútuo no convívio promovido pelas ações, nas atividades de jardinagem, nos lanches coletivos e no desenvolvimento das ações pedagógicas. Aprendizado sobre cogestão, convivência, acolhimento, respeito às diferenças, mas também sobre como superar os desafios e ativar parcerias potentes, como plantar ipês [tipo de árvore] e criar vínculos afetivos com o território”, destaca.
Nesse sentido, o programa atua com o intuito de retomar esse vínculo afetivo com o território e as pessoas, impactado pelo uso exacerbado das novas tecnologias. De acordo com a bolsista do projeto de extensão Bárbara Lira, a proposta do Vida no Campus desfaz o modus operandi da comunidade acadêmica, ou seja, quebra a imagem dos alunos imersos em seus celulares enquanto aguardam pelas aulas, e transforma esse momento em um período de conexão com o meio ambiente. “Quando a gente cria interesse por uma planta que nasce, que morre, um banco que construímos, a gente se preocupa com aquele local e também com as pessoas que habitam ali”, afirma.
É possível identificar essa ideia no portal do Programa Vida no Campus, o qual afirma que “é perceptível a perda da saudável sensibilidade em relação à natureza e da arte da contemplação em prol da vida virtual e digital: equipamentos de telecomunicação móvel e a televisão ocupam a maior parte do tempo das pessoas. Nosso campus é um pequeníssimo trecho do planeta, cuja espetacular beleza vem sendo destruída. Mas a partir desse nosso microssistema, estamos fazendo a diferença tornando a vida de todos os que por aqui circulam mais saudável e estimulando o comprometimento com as melhorias socioambientais”, finaliza.