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UFF divulga pesquisa realizada no morro do Vidigal, no Rio

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Com uma metodologia inovadora, que leva em conta não apenas os critérios de insuficiência de renda, a pesquisa tentou medir o grau de pobreza da população, através de diferentes aspectos da vida na favela, desde saúde, moradia, educação e segurança, até as noções que as pessoas entrevistadas têm sobre si mesmas e sobre o lugar em que moram.
Realizada entre os meses de fevereiro e março deste ano, o estudo da economista Larissa Martins, realizado na Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense, revelou resultados que contrariam a crença de que os moradores das favelas, por receberem um rendimento médio acima de meio salário mínimo per capita (utilizada como linha de pobreza), não seriam considerados pobres.
Baseando-se nos modernos conceitos de pobreza, definidos pelo premiado economista indiano, Amartya Sen, Larissa chegou a resultados que indicam serem os moradres da favela pobres, e no limite da pobreza extrema, embora haja, no seu interior, grandes desigualdades, tanto de rendas, que variam de R$ 80,00 a R$ 1.400,00, como dos outros quesitos estudados.
Piores indices estão relacionados à ausência de liberdade para se chegar ao domicílio
Para aferir a vulnerabilidade da população, e sendo as criancas a parte mais vulnerável das famílias, a pesquisa utilizou apenas mulheres como informantes, por serem as mães que permanecem com os filhos quando as famílias se desfazem. Foram entrevistadas 66 famílias, portanto, distribuídas igualmente pelos 11 setores do Vidigal, ficando de fora apenas o setor 300, ao qual a pesquisadora não pôde ter acesso, por concentrar a maior parte da atividade do tráfico.
Enquanto alguns índices revelavam bons resultados, que situam os mordores acima da linha de pobreza, como, por exemplo, “morar bem”, com a maioria das entrevistadas declarando ser boa a ventilação da casa, não haver mais de quatro pessoas por quarto ou não terem sofrido desabamento, outros índices, sobretudo os relacionados à ausênica de liberdade para chegarem às suas casas, revelaram um população pobre ou muito pobre.
Cerca de 44% das entrevistadas revelaram já terem sido impedidas de subir o morro e quase 50% informaram já terem sido impedidas de voltarem para suas casas. Dentre as que se declararam impedidos de subir o morro, 7% foram impedidas pela polícia, 14% pelo tráfico e 79% em razão dos tiroteios.
“Ter boa escolaridade” ou “realizar um trabalho gratificante”, registraram igualmente maus resultados, que classificam a população do Vidigal como extremamente pobre. No primeiro indicador verificou-se que 30% não completou a quarta série e outros 30% não completou a oitava e 35% não completou o segundo grau, sendo que ninguém concluiu a universidade. Quanto à satisfação com o trabalho, 51% das entrevistadas afirmou trabalhar mais que oito horas por dia; 63,6% desejariam ter outra profissão ou ocupação e 84% gostariam de ter estudado mais, porém não tiveram oportunidade.
Entre as aspirações… até ser presidente da República
A grande maioria das entrevistadas trabalha no setor de serviços e entre as profissões mais almejadas estão enfermagem, cabeleireira, secretária e veterinária. Houve quem preferisse qualquer outra profissão à sua. Muitas apresentaram aspirações muito modestas, como ser caixa, estoquista, camareira ou passadeira, o que pode denunciar uma adaptação às possibilidades reais, analisa a pesquisadora. Houve também quem desejasse ser médica, pianista e até presidente da república.
Em termos de serviços básicos, a favela do Vidigal não se revelou pobre, pois luz e água têm cobertura total nos seus quase três mil domicilios e a pavimentação de ruas foi considerada adequada, embora o acesso seja dificultado pelas escadas, mas menos de 40% consideraram o transporte público suficiente, sendo necessário recorrer ao transporte alternativo (mototaxis e kombis) para se deslocarem dentro da comunidade.
Quanto ao policiamento, 90% das mulheres reagiram à apergunta sorrindo ironicamente, tendo sido esta a questão com o maior percentual de recusa em responder, afirma Larissa Martins. O trabalho aborda ainda os aspectos de “comer adequadamente”, “vertir-se adequadamente”, “ter os filhos protegidos” ou “participar da vida da comunidade”, entre outros, formando um painel amplo e expressivo das condições de vida no Vidigal.
Para 80% das entrevistadas, a pior característica da comunidade está associada à convivência com o medo e a violência, vindo a seguir as escadas e os custos dos transportes alternativos. Já as melhores características são estar perto de tudo (trabalho, praia, comércio), a vista e as amizades.

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