“Católico fervoroso, ele era um homem de fé. Tinha o pensamento voltado para Deus. Além disso, era um orador de mão cheia, aplaudido desde os bancos acadêmicos por sua eloqüência”. A frase, pronunciada por Edmo Rodrigues Lutterbach, presidente da Academia Fluminense de Letras, revela a atmosfera de emoção da cerimônia oficial de doação da coleção Ministro Geraldo Bezerra Montedônio de Menezes à Biblioteca Central do Gragoatá (BCG), onde foi realizado, no dia 11 de julho, o evento.
Um acervo de 10 mil obras nas áreas de Direito, Religião, Literatura, Filosofia e Artes pertencentes ao ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho, estará a partir de agora disponível no campus do Gragoatá, bairro onde nasceu há 90 anos. A placa comemorativa foi descerrada pela viúva de Menezes, Odette Pereira Bezerra de Menezes, ao final da cerimônia, que contou com a presença de diversas autoridades e personalidades do meio literário e político.
O evento contou com a presença do reitor da UFF, professor Cícero Mauro Fialho Rodrigues, do vice-reitor professor Antonio Peçanha, do secretário de Governo de Niterói, Rivo Giannini, do diretor da Faculdade de Direito, professor Márcio Brandão Ribeiro, do ex-prefeito de Niterói Waldenir Bragança, além de desembargadores e outras autoridades.
Geraldo Bezerra de Menezes, justiça e fé em busca de um mundo melhor
“Criei-me no Gragoatá, praia de águas tranqüilas, banhadas pelo sol, num esplendor de luz e de cores. Há reflexos do céu naquele recanto, crepúsculos decorados por Deus, predispondo o espírito à poesia, ao sonho, à meditação. Ninguém envelhece, ninguém odeia, ninguém empobrece a alma refugiando-se na beleza daquelas tardes!”.
Assim definiu Geraldo Bezerra Montedônio de Menezes o bairro onde nasceu, há 90 anos, e onde, a partir de agora, sua coleção estará à disposição de uma nova geração de aspirantes a advogados, jornalistas e a todos que queiram apreciar seu vasto acervo de títulos nas áreas de Direito, Religião, Literatura, Filosofia e Artes, entre outras.
Por duas vezes, Geraldo Bezerra de Menezes foi diretor da Faculdade de Direito da UFF, além de docente da instituição. Assumiu a presidência da Academia Niteroiense de Letras em 29 de julho de 1945 e foi agraciado com diversos títulos, dentre eles a Grã-Cruz do Mérito Judiciário, em 1962 – a mais alta insígnia conferida a um magistrado brasileiro – e a Grã-Cruz do Judiciário Trabalhista, em 1971. Bezerra de Menezes foi também co-fundador da Academia Niteroiense de Letras, Professor Emérito da UFF.
Odette Pereira Bezerra de Menezes, uma história à parte
A idéia de doar os milhares de livros, periódicos e demais obras pertencentes ao marido foi dela, mas sua modéstia não permitiu assumir, sozinha, a autoria da iniciativa. Segundo Odette Pereira Bezerra de Menezes, o apoio de Anne Marie Paes de Carvalho, chefe da Biblioteca Central do Gragoatá, e de Gizá, bibliotecária, foi fundamental para que a doação se concretizasse. No entanto, durante a cerimônia, D. Odette, que partilhou durante 60 anos sua vida com uma das mais ilustres personalidades do país, não conteve nem a emoção nem a sinceridade: “Quase desisti, pois sinto, desde já, muita falta dos livros. Mas sei que os alunos vão aproveitar”, diz dona Odette, alegria e orgulho dos 15 filhos, 46 netos e 11 bisnetos.