Teve início nesta segunda-feira o seminário Universidade, Sociedade e Produção de Conhecimento do projeto Conexões dos Saberes, com o tema “Universidade pública para quem?” O evento é uma realização da Pró-Reitoria de Extensão em conjunto com o Observatório de Favelas. O observatório foi criado em 2001 por moradores e ex-moradores de periferias que conseguiram formação universitária sem perder a identidade e o vínculo com o território de origem.
Estiveram presentes na cerimônia de abertura o reitor da UFF, Cícero Mauro Fialho Rodrigues, o pró-reitor de Extensão, professor Jorge Luiz Barbosa, o coordenador-geral do observatório e coordenador nacional do Conexões, Jailson de Souza, e o coordenador na UFF do Conexões, professor André Brandão.
O reitor lembrou que o Conexões dos Saberes atinge duas dimensões da universidade: a crítica do conhecimento voltado para a elite e produzido por ela e a sua colocação como produtora única e exclusiva de conhecimento. Para ele, o projeto Conexões combate essas posturas, elaborando para as camadas marginalizadas estratégias de acesso e permanência e reconhecendo que organizações e movimentos sociais têm importante papel de construção de saberes.
Jorge Luiz Barbosa destacou o papel do seminário como local de troca de experiências para traçar estratégias de acesso, permanência e sucesso dos jovens de camadas populares na universidade. André Brandão ressaltou que é preciso estabelecer discussões significativas num momento em que as ações afirmativas entram na agenda de formulação de políticas públicas.
Juventude, diversidade e protagonismo social
Na mesa que discutiu juventude, diversidade e protagonismo social questões como dificuldade de acesso e permanência de certas camadas da sociedade foram levantadas. Jailson de Souza falou sobre estudos que comprovam que algumas pessoas estão fadadas a ficarem um período curto na universidade. “Os jovens de camadas populares, principalmente de favelas, não têm chegado à universidade e, quando chegam, representam o maior número de evasão, porque não são pensadas estratégias de acesso nem de permanência”, afirmou.
A universidade tem colaborado com o processo de “desenraizamento” dos jovens de classes populares, a partir do pensamento produzido e reproduzido pela classe social hegemônica que faz com que a universidade se constitua em instituição reprodutora de preconceitos. Para Souza, os jovens são incentivados o tempo inteiro a negar suas origens, sua cor, sua passagem por escolas públicas e, assim, perdem a auto-estima e não fortalecem sua identidade.
O professor falou sobre a estrutura do programa. Mesmo nacional, o Conexões respeita a autonomia das universidades que o compõem, sendo formado por coordenadores locais responsáveis por produzir conhecimento, estabelecer vínculo com as comunidades e levantar dados para construir uma intervenção social especializada. É um passo para aglutinar estudantes de origem popular para se organizarem e pensar em políticas públicas, levantar demandas e exigir ações. Disse ainda que é preciso repensar o vestibular, que para ele constitui-se em um “perverso método de seleção” e contribui para que a maioria dos jovens de origem popular estejam fora da universidade. Lembrou também que no final de 2005 o Conexões ganhou o prêmio nacional do Banco de Tecnologias Sociais, tornando-se referência nacional na área de educação.
O pró-reitor de Extensão, Jorge Luiz Barbosa, coordenador adjunto do Conexões, destacou que na extensão há o desafio de democratização do conhecimento, que precisa, principalmente, garantir a democratização do acesso.
Hoje a proposta de implementação da política de cotas faz repensar o ingresso na universidade e o significado da presença de setores marginalizados, como negros e oriundos de escolas públicas. “Fala-se muito que a universidade pública atende a uma elite, o que não é verdade. Em 2003, 59% dos jovens que ingressaram na universidade são de primeira geração, ou seja, são os primeiros da família a terem acesso à educação superior. Entram, entretanto, em determinados cursos da área de ciências humanas com uma baixa relação candidato/vaga, como Pedagogia, Serviço Social, Biblioteconomia e Documentação e Arquivologia. Esses são também os cursos que apresentam maior grau de evasão devido às dificuldades materiais de se manterem e à ‘exclusão simbólica’ que sofrem, pois esses jovens tornam-se ‘invisíveis’ e acabam sendo levados a deixar de lado suas vivências e a perderem sua identidade”, afirmou.
Barbosa lembrou que a UFF está localizada perto de comunidades populares, mas essa distância física, acaba sendo superada pela distância social. “O desafio do projeto é tecer uma rede e poder envolver todos para a construção de uma agenda propositiva com formulação de políticas públicas de combate às desigualdades sociais.”
Os trabalhos do seminário continuam nesta terça e quarta-feira, com os grupos de trabalho pela manhã que irão discutir acesso e permanência na universidade e juventude e políticas públicas e mesas-redondas à tarde e à noite. O evento está sendo realizado na Escola de Serviço Social, 4º andar, Campus do Gragoatá, Bloco E, São Domingos, Niterói.