Uma universidade integrada ao espaço social no qual está inserida, que saiba produzir não apenas o saber acadêmico como também transformar este saber em benefícios à comunidade.
Essa é a meta do projeto Conexões de Saberes, inaugurado pelo MEC em dezembro de 2004. A Universidade Federal Fluminense, UFRJ, UFMG, UFPA e a UFPE são as cinco primeiras universidades a receberem o projeto-piloto. Foi a partir de experiências do Rio de Janeiro que o Ministério da Educação desenvolveu o Conexões de Saberes.
A Rede “Universitários de Espaços Populares” foi o passo inicial para a criação de um programa mais abrangente, com a finalidade de estabelecer diálogo entre as comunidades populares e a universidade. Foram distribuídas 52 bolsas para estudantes da UFF e da Uerj que vivem em locais populares nas cidades de Niterói e São Gonçalo durante o ano de 2004.
As comunidades de Preventório e Lara Vilela, em Niterói, e do Porto da Pedra, em São Gonçalo, foram os primeiros locais abrangidos. Nelas, os alunos bolsistas realizaram diagnósticos socioeconomicos, focalizando principalmente os jovens de 14 a 24 anos. Por meio dos diagnósticos, detectou-se as necessidades mais importantes das localidades e foram implementadas oficinas de arte e cultura – vídeo e fotografia –, uma biblioteca no Preventório e o projeto Memória de Bairro, no Porto da Pedra, dentre outras ações.
A secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC resolveu expandir essas iniciativas e criou o Conexões de Saberes, baseado também em experiências realizadas pelo Observatório de Favelas, uma organização que realiza atividades desse mesmo gênero em favelas cariocas, como a da Maré, Morro do Alemão e Cidade de Deus. O observatório é uma rede sociopedagógica que oferece bolsas a estudantes universitários e pré-universitários para atuarem com as comunidades de origem, sendo eles agentes de intercâmbio entre a universidade e a comunidade.
Projeto inicia-se em março
A UFF está em processo de seleção dos 25 alunos que serão bolsistas do Conexões. Para participarem, os alunos precisam ser moradores de espaços populares, terem renda de, no máximo, cinco salários mínimos e já terem participado de atividades de caráter social, como trabalho voluntário em associações de moradores, ONGs ou grupos religiosos. Além desses pré-requisitos, os estudantes passam por entrevista individual e respondem a um questionário. Também é solicitado aos futuros bolsistas que redijam um texto. O tema escolhido pela UFF foi uma avaliação das expectativas e ansiedades com relação à universidade antes e depois de ingressarem nela.
A primeira atividade da qual participarão os estudantes selecionados será um curso interdisciplinar focado em políticas públicas para a juventude. Após o curso, começará o “trabalho de campo” – os alunos farão diagnóstico sociocultural dos territórios de origem e traçarão o perfil dos próprios alunos ingressos na universidade.
“Desta maneira, se fecharia o primeiro ciclo do projeto. Os perfis, as condições e as dificuldades dos alunos de origem popular já estarão mapeados. Daí em diante, poderemos criar soluções para os problemas detectados”, explica o professor Jorge Luiz Barbosa, coordenador do projeto na UFF.
A estrutura local do Conexões de Saberes é composta também pelos alunos de pós-graduação Alexandre Tomaz de Aquino, Fernando Braga e Walter do Carmo Cruz. O professor da UFF Jailson de Souza Silva assumiu a coordenação nacional do programa. Ele também é coordenador-geral do Observatório de Favelas ao lado do professor Jorge Luiz Barbosa, responsável pela coordenação técnica da organização.
Democratizar sem massificar
A popularização do espaço universitário é, segundo Barbosa, uma das principais metas do Ministério da Educação. Ele ressalta, entretanto, a necessidade de ingresso qualificado na universidade. “Não pode acontecer com a universidade o que aconteceu com a escola pública. Não pode haver massificação e conseqüente perda de qualidade”, diz.
A melhoria do ensino médio e a potencialização de pré-vestibulares comunitários são medidas citadas pelo professor que funcionariam como antídoto para a pouca bagagem com a qual alunos de baixa renda, apoiados por políticas de cotas, ingressam na universidade. De acordo com ele, as cotas são emergenciais e não podem ser o único meio de democratização do acesso à universidade para a população de baixa renda. “O Conexões de Saberes pode ser um dos caminhos”, acredita.
Para que a meta do Ministério da Educação seja atingida, é preciso que haja um forte envolvimento da universidade. Alguns setores da UFF, como o Departamento de Ações Comunitárias (DAC), assumirão importante papel na consolidação do programa. Estima-se que até o fim de 2005 sejam dez universidades a abrigarem o Conexões de Saberes.