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“Gente das areias” revela conflitos e desafios dos pescadores do litoral fluminense

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O ano de 1975 foi trágico para Maricá. Em 28 de agosto a lagoa despertou coberta de peixes mortos. Poucos dias depois, a fome já rondava os lares dos pescadores da região. Os jornais do Rio e de Niterói começaram a reportar ameaças de saque aos armazéns pela população local. Um grupo tarefa, formado por geógrafos, agrônomos, veterinários, assistentes sociais, sociólogos e antropólogos, foi destacado para avaliar a situação.

Nesse contexto tem início a narrativa dos antropólogos Marco Antonio da Silva Mello e Arno Vogel, autores de Gente das Areias – História, meio ambiente e sociedade no litoral brasileiro (419 p., Eduff). Fruto de 20 anos de pesquisa, o livro revela a história do povoado de Zacarias, bem como a resistência dos pescadores face à especulação imobiliária e aos problemas sociais e ambientais decorrentes da crise da pesca artesanal, nas lagoas de Maricá.

“Gente das areias” parte das notas dos viajantes do século XIX, passando pelas políticas públicas do saneamento no Brasil, para tratar do complexo manejo do ecossistema lacustre, graças às aberturas sazonais das “barras nativas”, grande rito de semeadura da “lavoura do pescador”. Tudo isto, no contexto de um drama social denominado a “luta do tostão contra o milhão”, travada entre os pescadores da Praia de Zacarias e o empreendimento imobiliário, configurado no projeto da Cidade de São Bento da Lagoa. Casa, família e parentesco constituem, neste sentido, uma dimensão etnográfica estratégica para a compreensão das motivações implicadas neste conflito sócio-ambiental.

Com apresentação de farto material iconográfico – fotos, documentos, diagramas e mapas – o livro é resultado de uma cuidadosa investigação etnográfica escrita numa linguagem que agradará não apenas aos estudiosos do tema, mas também ao público em geral.

Os autores – Arno Vogel e Marco Antonio Mello dividem a co-autoria de dezenas de artigos e outros dois livros: “Quando a rua vira casa” (Ed. Projeto, 1983), em sua terceira edição, e “A galinha d’Angola: iniciação e identidade na cultura afro-brasileira” (Eduff/Flasco, 2001), este último com participação de José Flávio Barros. Doutor em Antropologia pela USP e pós-doutorando em Sociologia da Universidade de Paris, Marco Antonio Mello atualmente ocupa a chefia do Departamento de Antropologia Cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Vogel, por sua vez, é doutor em Antropologia Social pela UFRJ e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense. É autor ainda de O pastor peregrino: ritual, simbolismo e memória da primeira visita de João Paulo II ao Brasil (Eduff, 1997) e Como as crianças vêem a cidade (Pallas, Flacso, Unicef, 1995), escrito em parceria com Gerônimo de Almeida e Vera Lúcia Vogel.

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