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Beleza é tema de estudo socioeconômico

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Os brasileiros estão entre os povos mais vaidosos do mundo e este comportamento tem se refletido na produção brasileira da indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, cujo faturamento, em 2004, já representava 6,5% do faturamento total da indústria química. Este setor, nos últimos dez anos, tem crescido a uma taxa média de 5% ao ano, bem acima da média de crescimento do PIB, que foi de 2,4% ao ano no período.
O Brasil é considerado hoje o quinto maior mercado na área de cosméticos do mundo.
A preocupação com a beleza tem impulsionado ainda o setor de serviços, com a sofisticação dos salões e clínicas de estética e o quase desaparecimento das barbearias, com seus serviços mais simples, baseados apenas no corte de cabelos. A complexidade dos novos serviços, por sua vez, vem estimulando também a produção das indústrias farmacêutica e de material elétrico.
Todas estas conclusões estão no estudo “O impacto socioeconômico da Beleza – 1995 a 2004”, realizado por professores da Faculdade de Economia, sob coordenação de Ruth Helena Dweck, por solicitação da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). O trabalho, agora apresentado ao público, analisa a evolução das atividades que giram em torno do conceito de beleza, na última década.
Grande porta de entrada para o trabalho urbano, sobretudo para mulheres
Uma das principais características dos serviços de beleza é ser altamente personalizado, o que os torna grandes absorvedores de mão-de-obra. De 1985 a 1995, o pessoal ocupado nos serviços de beleza quase dobrou, e continuou crescendo até 2003, quando dados da PNAD registraram um crescimento de 6% no ano. O número de pessoas ocupadas no setor passou de 679 mil, em 1995, para 1 milhão e 43 mil em 2003.
Devido à pouca qualificação exigida, o setor de serviços de beleza torna-se a grande porta de entrada para o trabalho urbano, principalmente para as mulheres, depois do trabalho doméstico.
No entanto, vem crescendo o número de profissionais com nível universitário e do sexo masculino, embora as mulheres ainda sejam maioria absoluta, representando ainda 80% do pessoal ocupado, enquanto na economia como um todo, a participação feminina é de 40,1%, segundo os dados da PNAD/IBGE, para 2003.
Quando ao aumento da escolaridade, em 1985, 66% dos profissionais não tinham primeiro grau completo e menos de 8% possuíam o segundo grau completo. Em 2001, 25% já haviam terminado o segundo grau todo e quase 10% tinham nível superior. Quanto à entrada dos homens nesse mercado, um exemplo disso é a evolução do comportamento da atividade de técnico de esporte. Hoje, tipicamente masculina, mas, em 1985, quando surgia no país, foram registrados menos de mil profissionais e a maioria (56%) eram mulheres. A partir daí, o número de técnicos aumentou e, em 2001, os homens já ocupavam 63% dos postos de trabalho (PNAD).
Com a sofisticação dos serviços, o setor envolve um número muito diversificado de profissionais, mas os tradicionais cabeleireiros e manicures ainda são 70% do total, embora a taxa venha diminuindo. Os salários ainda são baixos, numa média de 1,7 salários mínimos no setor, enquanto a média nos serviços em geral é de três salários mínimos.
Beleza: fator de discriminação no mercado de trabalho
Além da maior presença da mulher no mercado de trabalho e de a beleza passar a ser uma preocupação masculina também, uma outra variável econômica vem chamando a atenção dos estudiosos pela repercussão que ela tem tido na economia: a beleza como fator de discriminação no mercado de trabalho.
Assim como as discriminações por sexo e raça, a aparência física começa, a partir da década de 80, a aparecer como fator importante, influindo nos rendimentos e salários das pessoas.
Esta nova variável ajuda a explicar os motivos do crescimento e das transformações por que vem passando o setor de estética e higiene pessoal ao longo dos últimos anos, no Brasil e no mundo, provocando reações em cadeia nos serviços de beleza e em vários segmentos industriais que produzem bens para atender a este predicado, afirma a autora do trabalho, Ruth Helena Dweck.
A exigência de uma boa aparência, diz o estudo, tem estimulado os investimentos em beleza. Do ponto de vista individual, a maioria das mulheres e um percentual crescente de homens se preocupam com a aparência e compram produtos para melhorá-la. As mulheres de renda mais baixa, inclusive, comprometem, proporcionalmente, uma parcela maior de sua renda com cosméticos do que as mulheres de renda mais elevada. Como resultado, o setor de higiene pessoal movimenta mais que o dobro do setor de cosméticos, pois vende para as classes C e D, aponta o estudo. Do ponto de vista empresarial, a relevância dos investimentos se expressa no surgimento constante de novos produtos para atender à demanda cada vez mais diversificada, que reflete as influências da moda, da mídia e dos movimentos sociais, que valorizam certos aspectos raciais ou culturais.
Agrega-se a tudo isto a crescente longevidade da população, associada ao medo de parecer velho, que deixou de ser uma preocupação feminina para ser motivo de forte atenção dos homens, diz a autora. Não por acaso, no Brasil, os produtos mais vendidos são os destinados ao tingimento dos cabelos, ou seja, as tinturas de diferentes tipos, seguidas dos alisantes, fixadores e modeladores.
Um outro aspecto importante do ponto de vista do comércio varejista, revelado no trabalho, é que os canais tradicionais de venda foram os mais beneficiados pelo bom desempenho da indústria cosmética, revertendo a tendência de perda de espaço para as vendas diretas, do tipo porta a porta, e as franquias.

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