Servidor, você sabe administrar o seu dinheiro?

A educação financeira busca auxiliar os consumidores na administração de suas rendas, poupanças, investimentos, consumo consciente e prevenção de situações de fraude. Principalmente em tempos de crise, é importante praticar essa boa educação e tomar conta do seu dinheiro. Mas você, servidor, sabe quais são as melhores formas para se fazer isso e ter sucesso? Nós entrevistamos o professor do curso de Economia da UFF, Ivando Faria, sobre o assunto, e a seguir você pode conferir as principais dicas e informações.

Qual a melhor forma de organizar as finanças pessoais?
Em primeiro lugar, deve-se saber com o que gastar. Esse é um critério pessoal e, portanto, o autoconhecimento é fundamental. “Quem sou eu?” é uma reflexão que deve ser feita longe das mídias e propagandas. É importante se libertar da opinião alheia sobre sua vida. É difícil, pois somos invadidos diariamente por conceitos e preconceitos que nos desviam de nossa estratégia. Gaste o estritamente necessário e dentro de sua zona de felicidade. Não deixe que os outros gastem por você. Conquiste uma poupança, pois esta tem um valor estratégico enorme.

Em tempos de crise, quais são as melhores estratégias para conter gastos? De forma geral, quais hábitos de consumo devem ser cortados primeiro?
Temos três tipos de gastos: necessidades básicas, necessidades estratégicas e desejos. As necessidades básicas não podem sofrer cortes de gastos, pois causam danos ao corpo e à mente. Gastos estratégicos estão associados à gestão do seu tempo. Os tempos são de dois tipos, o livre e o vendido (trabalho). Gastos com educação valorizam o tempo vendido e gastos com eletrodomésticos aumentam seu tempo livre. Por fim, temos nossos desejos, gastos que não afetam nossos tempos. Eles têm prioridade nos cortes. Viagens, restaurantes, bebidas, carros caros, joias e passeios: o que é supérfluo tem prioridade em cortes.

Quanto, em média, uma pessoa deve economizar do seu salário para possíveis investimentos no futuro?
Não partilho dessas regras. Cada pessoa é um universo próprio e deve ter sua estratégia de vida e de conquistas. Cada um deve trabalhar o autoconhecimento para delinear sua estratégia. Atender as necessidades básicas e estratégicas é muito importante para ter sucesso de conquistas. Ter uma poupança a cada momento é essencial, e seu tamanho pode variar em cada fase de vida, dependendo de sua estratégia.

Existem diferentes formas de investimento financeiro no Brasil (poupança, tesouro nacional, compra de terrenos, etc). Pensando no servidor, que tem uma renda fixa mensal, existe algum investimento mais recomendado e/ou menos arriscado? Como investir no tesouro, por exemplo?
Basicamente há dois tipos de investimentos: renda fixa e renda variável (ações). Hoje recomendo a todos o Tesouro Direto. Há títulos com boa rentabilidade para o baixo risco que oferecem. Aceitam depósitos a partir de R$30,00. O Tesouro Selic e o Tesouro IPCA são os mais recomendáveis. Para investir no Tesouro Direto é necessário abrir uma conta em uma Corretora de Valores. O resto você faz pela Internet.

Obter empréstimos é uma atitude financeira inteligente? Se sim, de maneira geral, em quais momentos eles devem ser feitos e em quais evitados?
Podem ser feitos em situações de emergências (doenças e catástrofes) ou para adquirir bens de alto valor. Fora destas situações há algo errado com a forma que você gasta seu dinheiro e algo deve ser feito. Talvez uma reunião em família para definir prioridades e orçamento doméstico. As taxas de juros no Brasil são extorsivas e têm alta capacidade de destruir orçamentos. Cair nas garras de juros é desastroso. Sei que não é fácil, mas se você realmente quer ter prosperidade deve ter inteligência intrapessoal (controle das emoções), conformação estratégica (se conformar com o pouco que tem para planejar novas conquistas) e resiliência (resistir às forças que te desviam do planejado).

Gastar até 10% do salário com compras no cartão de crédito é um mito ou algo recomendado?
Como já disse, não gosto dessa regra porque não tem fundamento. Tenha a sua estratégia. O cartão é positivo na medida que permite planejar seus gastos. Se paga a fatura à vista todo mês, não vejo problema no uso inteligente do cartão.

Qual o melhor momento para compras à vista ou parceladas? Como e quando escolhermos o melhor caminho?
Vamos usar uma regra simples. Se a loja lhe propõe pagar em 3 vezes sem juros, peça 3% de desconto e pague à vista. Se a loja não quiser dar o desconto, pague em 3 vezes sem juros ou compre em outra loja. Se puder adiar a compra, poupe e pague à vista em outra loja que dê desconto. Em resumo, lute pelo seu dinheiro. Não o jogue fora.

Tem mais alguma sugestão sobre a temática?
Tenha uma estratégia pessoal que não seja influenciada pelo mundo. Tenha foco! Se prepare para não cair nas garras dos juros, e do consumismo não racional. Não tente ter status sem propósito. “Status pode ser você comprar o que não precisa, com o dinheiro que não tem, para mostrar para pessoas que você não gosta, a pessoa que você não é.” Não caia nessa.

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